A Ambição afrodisíaca do arvoredo balzaquiano: capítulo 1
por Giba Assis Brasil
 
 
OBSERVAÇÃO SOBRE OS ARQUIVOS DO NÃO
 
No primeiro número do Não (que então se chamava Impressão), dia 18 de março de 1975, poucos dias antes de fazer 18 anos, escrevi o primeiro capítulo de um pseudofolhetim que viria se chamar A AMBIÇÃO AFRODISÍACA DO ARVOREDO BALZAQUIANO, e que seria escrito em conjunto com (o hoje saxofonista) Ricardo Cordeiro e (o hoje baixista e consultor de informática) Heron Heinz. A intenção era imitar Monteiro Lobato, mas terminou sendo uma leitura adolescente e pretensiosa dos textos do Luis Fernando Verissimo. Fiz o possível para não alterar nada, nem mesmo a pontuação. Mas, considerando que o original era manuscrito (e assim circulava entre os seus seletos leitores), é difícil uma transcrição 100% fiel. O texto não tem graça nenhuma, mas assim é a Internet, e assim são os arquivos do Não: eu prometo que não transcrevo o capítulo II.



LITERATURA / APRESENTAÇÃO

Apresentamos aos leitores um novo gênero de literatura. Não é poesia, mas também não é prosa. Não é romance, nem novela, nem conto, nem crônica, nem comédia, nem drama, nem biografia. Ao mesmo tempo, é também um novo estilo literário. Não é romântico, nem realista, nem clássico, nem barroco, nem modernista, nem surrealista, nem simbolista, nem impressionista. E também fala sobre um novo tema: nem amor, nem vida, nem morte, nem procura, nem descobrimento, nem religião, nem pornografia. Talvez a melhor definição para essa coisa seria "um esquizofrênico e incompleto modelo literário escrito a três mãos". Tão esquizofrênico e incompleto que o primeiro capítulo vai sair sem título.


... ARVOREDO... AMBIÇÃO...

CAPÍTULO I

A princípio, pode parecer que os fatos relatados neste "livro" possam por em perigo a segurança Nacional. Na verdade, como patriotas que somos, não teríamos coragem, ou melhor, não seríamos capazes de publicar qualquer coisa a este respeito caso não tivéssemos tido autorização expressa do governo deste país (Deus o tenha!). Assim é que nos sentimos com relativa disposição, e até obrigação, de mostrar aos leitores o que realmente aconteceu naquele ano fatídico que seria melhor nem lembrar.

Tudo começou no dia 1º de janeiro daquele ano, durante a festa de confraternização Universal realizada na casa do Ilustríssimo General Mangusto Bookmaker. Mal sabiam os trezentos e poucos convidados (e mais os cento e poucos não-convidados) tudo o que haveria de acontecer em conseqüência dos fatos daquela noite tenebrosa.

Entre os convidados mais ilustres figuravam: Necrófilo Mitsubishi, o maior estuprador de cadáveres de Tóquio, que, tendo ido tirar um curso de pós-graduação na Universidade do Alabama, pegou o trem errado e foi parar em Porto Alegre; Heinz Maracujá, homem de cenho carregado, modos delicados e aristocráticos, filho do Emir de Rhas-Al-Khaymma com sua 13ª esposa, uma bailarina espanhola aposentada; Zepelin Cordeiro, compositor pop de Viamão, famoso por seu recente caso com um guarda de trânsito francês que tentou multá-lo por dirigir seminu em alta velocidade na praia da Alegria; Mariazinha do Pole-pole, estrela do cinema nacional, conhecida mundialmente por seus papéis nos filmes "Conde Drácula vai ao dentista", "Os cabotinos também fazem amor" e "O planeta das piranhas"; e Comendador Aparício Matarrato, inventor do processo de industrilização da maconha em linhas de montagem, cleptomaníaco e com 360 graus de estrabismo, o que lhe dava uma visão quase normal.

O primeiro fato importante da festa ocorreu antes dela começar, quando o General Bookmaker conversava com sua esposa Margarida a respeito dos preparativos.

- Gugu, meu bem, você prefere a torta com nozes importadas ou com fios de ovos contrabandeados?

O General, com seus 150 quilos estirados numa confortável cadeira de balanço estilo colonial, cuspiu fora o charuto que tinha na boca e explodiu:

- Francamente, Margarida, então você não sabe que no 1º dia do ano eu gosto de comer é torta de tomates?

O segundo fato importante aconteceu enquanto chegavam os primeiros convidados. Quando o General Bookmaker foi receber o Sr. Samuel Manstein e sua esposa, que estava grávida, lembrou-se de algo tão terrível que o fez colocar as duas mãos na cabeça.

- My God! - exclamou - esqueci-me de Pindorama Muhamad.

Pindorama Muhamad, seu colega de infância, desde criança mostrara sua genialidade: inventou um sistema de puxar saco de professores praticamente infalível. Como é óbvio, ao crescer foi ser político. Era vereador no interior da Paraíba, mas conhecido em todo o Brasil por ter criado o anteprojeto de lei que pretendia diminuir para 15 dias o período de gestação. Na época, declarou à imprensa que o boicote emedebista ao seu projeto não passava de "mais uma manobra soviética para implantar o terrorismo no Brasil". E acrescentou: "Mas o povo não deve pensar que não estamos vigilantes. Providências hão de ser tomadas." E agora o General Mangusto Bookmaker havia se esquecido de convidar o seu mais dileto amigo para a maior festa que já havia dado em sua casa. Apavorado, pediu desculpas aos convivas e dirigiu-se ao telefone para tentar uma ligação com a Paraíba. No fundo, sentia-se satisfeito, pois pensava: "Até que enfim uma possibilidade de enredo para esta história".

Enquanto o General tentava telefonar, dois convidados (que não vamos identificar agora para deixá-lo curioso) confabulavam:

- Não soubeste dos boatos?

- Que boatos?

- Que esta festa é só fachada para uma reunião da A.A.R....

- Meu Deus, que horror!


O quê será a A.A.R.? Conseguirá o General falar com Muhamad?
Que enredo afinal terá essa história? E que título?
Não percam o capítulo II.  

Giba Assis Brasil escreveu este texto em 18/03/75 e ainda levou alguns anos antes de desistir da literatura. Hoje finge fazer cinema, que é bem mais fácil.