EX-CALADOS AUTÔNOMOS
por José Luiz Lima
Publicado originalmente no Não 29, em abril de 1978
 
 
Sob clara influência exótica e alienígena ao caráter e à índole do nosso povo, está se formando um agrupamento revolucionário que, como o grupo original, visa minar e destruir as bases de sustentação do sistema capitalista.

Dentro desta perspectiva, esta nova proposta manifesta-se como a peleia pela busca de novos rumos que levem não a uma participação centrada na unidade mas sim a vários movimentos que, numa luta entre si, nos conduza, dentro das nossas divergências, na longa caminhada pela busca da liberdade e da construção da sociedade socialista.

Assim passamos a traçar as futuras atividades deste grupúsculo.

Um membro dos Ex-calados Autônomos não precisa ser convidado para nada, principalmente festas (de casamento, de aniversário, etc.) - ele se convida. Palavra de ordem possível de ser utilizada nestas situações: "Pessoal, cheguei!"

Um Ex-calado Autônomo não compra livros, durex, canetas e outros materiais escolares - ele os adquire. Palavra de ordem: "O furto não é uma propriedade privada."

Um Ex-calado Autônomo não paga passagem de ônibus - ou aplica o golpe da carteira ("pô, seu cobrador, o senhor num vai nem acreditá mas bateram a minha carteira e eu tô duro e não tenho como voltar pra bia"), ou então adere ao pulinho (uma aliança operário-excalados).

Disco já é um troço mais complicado, mas meu irmão garante que sua "compra dupla" não falha. Se bem que ainda não é o ideal.

Um Ex-calado Autônomo não estuda, ele vai (se vai) à aula. Deve passar com o máximo de C. Acima deste conceito é considerado revisionista.

E um Ex-calado Autônomo não perde tempo escrevendo para pasquins murrinhas e pseudo-revolucionários.
 



Zé Lima (na época conhecido na turma como "Gordo Lima", por motivos óbvios) é jornalista, mora hoje em São Leopoldo e trabalha na Secretaria de Estado da Justiça (onde é conhecido, por motivos não tão óbvios, como "Delegado Lima"). Ao ler sua matéria de 21 anos atrás publicada no Não eletrônico, protestou por telefone: "Foi a pior coisa que eu já escrevi na vida". O Não, evidentemente, está aberto para que o companheiro tente se superar.