O Diário de Claudeth,
uma mulher solitária.
Lulit
 Acho que não merecia estar dormindo sozinha esta noite. Tô quente. Meu sexo lateja. Sou a melhor amante do mundo. Consigo ficar horas sugando essências. Sei exatamente onde é bom. Mas estou sozinha. Por mais novidades e tendências que se criam, nada supera a sensação do sexo. Contatos com a boca, a pele, com o pé de quem se ama por dez anos ou por uma noite. Alguém poderia me fazer feliz esta noite. Todos os meus problemas se resolveriam mais facilmente. Será que amanhã eu vou acordar menos feliz que hoje, pelo fato de não ter transado esta noite? Possivelmente. Será que não trepar muito seguido envelhece? Certamente. Amanhã eu vou trepar com alguém e vou ser mais feliz que hoje. Vou ir para um bar e encontrar um gatinho magro, lindo e inteligente, com um pau bem bom e vou fazer ele trepar 8 vezes comigo. Bom, só se ele tiver 20 anos e for quase virgem. Se já passou muito dos 20, vai ser menos vezes, mas tão bom quanto. Também pode ter mais de 30 e trepar 8 vezes. Não, isto é sonho. Uma utopia tão grande como acabar com os pobres do mundo. Mas acabar com a fome do mundo não é utopia. Quando falta sexo é fácil cair na política. As pessoas precisam comer e de preferência comer bem para o mundo ser mais dinâmico. Ninguém agüenta tanto tédio. Os brasileiros tem que conseguir pelo menos saber comparar a novela das 7 com a das 8. Depois, odiar as duas e passar para TV a cabo. Largar a TV a cabo e passar para o vídeo. Ou ouvir música boa o dia todo, lendo um livro. Mas voltando a falta de sexo, poderia também ser um homem de 50 ou talvez 60. Ou quem sabe uma mulher, para variar. Hoje uma me trouxe do bar para casa. É bonita e de pequena já mostrava interesse por mim. Fez questão de me dar carona bem na hora em que eu queria caminhar. Todo o manual de beleza e saúde manda caminhar. Mas toda a vez que eu saio sem carro para andar por aí, aparece alguém para me dar carona. Mas talvez ainda precise desenvolver sensações desconhecidas. Ela queria entrar, mas não sei o que faria com uma mulher na minha cama, além de conversar. Mas a novidade da estória me atrai. Atrai como o desejo de conhecer a heroína, com quem não me casaria jamais. Minhas amigas sapatas dizem que para transar com mulher tem que estar apaixonada, para ter graça. Aí fica difícil.

Sempre acho que escrevendo frases, sem provar de tudo na vida, estou escrevendo frases mentirosas porque algumas experiências te fazem negar tudo o que tu acreditava antes. Por exemplo , na minha época de católica eu acreditava que quem não levava a extrema-unção na hora da morte, não ia pro céu. Então eu ficava pensando de noite (bem pior que pensar em sexo mal-resolvido), no que acontecia aos mortos que morressem em combate, sem padre por perto. Também em alguma mulher que morresse sozinha no campo, sem nenhum capelão. Não era justo. Só a reza na hora do último desespero já seria suficiente para a absolvição? Aí, para dormir eu pensava, os padres rezam por todos. De criança sempre pensava em ir para o céu, mas dar uma passadinha antes no inferno para conhecer. Gostaria de ver a dor dos outros , mas sem me queimar. No delírio, se apaixonar pelo torturador. Já não saber mais nada. Mas voltando ao nosso tema de hoje. Valeria a pena estar com alguém sem sentir um super-tesão? Acho que sim. O problema é que alguma das partes envolvidas quase sempre se apaixona numa transa pela parte que não ficou muito envolvida. E aí fica aquela grudação sem sentido, pra desdobrar. Só sei que eu queria um carinha aqui agora. Quente, lisinho, cheiroso. Ou uma gatinha que acabasse com minha eterna heterossexualidade. Ou um grupo composto de um casal e um solteiro. Todos felizes e loucos, que contassem estórias interessantes e cômicas e depois gostassem de trepar. Que me fizessem morrer de rir. Quase sempre sou eu que tem que fazer os outros rirem. Isto quando eu quero, pois ultimamente estou assumindo um jeito antipático com algumas pessoas que não tenho paciência. Mas eu não gostaria de ser chata com quem antipatizo. Gostaria de estar em São Paulo? Talvez. São Paulo tem um ar de solidão que eu adoro, andando sozinha com desconhecidos pela rua. Tem um lado da solidão que não tem deixa enlouquecer. O lado indivíduo, que te dá a chance de fazer pequenos balanços particulares. Atualmente, muito pouca coisa me prende realmente a atenção. Se a pessoa não for carismática sou capaz de ouvi-la discursando duas horas sem saber do que está falando. É a arte do flutuar, fluir, sem pestanejar. Os japoneses já deveriam ter criado, a nível doméstico, robôs do sexo. Eu compraria um. Poderia ficar mais em casa, ler mais. Mas os japoneses são muito moralistas para desenvolver um robô do sexo. Talvez os escandinavos.

São 3 horas da manhã e os sons estão cada vez enfraquecendo mais. Me dá um pouco de medo saber que na casa ao lado tem montes de Hare-Krishnas machos, com sexo muitíssimo atrasado, e o que nos separa é esta parede. Será que não deixei a porta dos fundos aberta? Certamente. Mas tenho o meu cachorro babaca, sonolento, comedor de macarrão. Vou me chavear no quarto. Aqui só entram anjos. Roubem a casa toda e deixem meu corpo virgem intacto. Paranóia. Tá na hora de dormir. Não espere ...