Democracia Arenista
Álvaro Magalhães
 

O sr. Paulo Santana, na ZH do dia 20/11/97, reduz as polêmicas do caso financiamento à GM e da localização da pista de eventos a "meras picuinhas eleitorais". Eis sua conclusão: "Nem o Britto, nem o Pont seriam loucos a ponto de não saberem que a maioria do povo os apóia em trazer a GM e em construir o sambódromo, a democracia funciona assim. Então deixem os eleitos governar, parem os perdedores de encher o saco!" O cronista pode ser a favor do que quiser, mas democracia NÃO é isto. Aliás, os militares e a Arena nos diziam quase o mesmo: sejamos democráticos, desde que os fracos não incomodem. Brasil: ame-o ou deixe-o !

Em princípio, os dois governos acham que estão realizando o interesse público, sem ferir direitos. Se os que podem limitar o poder dos chefes concordarem, no ano que vem a GM estará em Gravataí e pista de eventos no Marinha. Para se ter democracia deve haver lei escrita e uma forma daqueles que sentirem seus direitos feridos recorrerem. Mesmo que este direito seja não querer batucada perto de casa ou ir contra o subsídio à GM, mesmo que seja um interesse privado ou inoportuno.

É necessário também que as diferenças se expressem e que as fraquezas ganhem expressão política. E também que grupos políticos representem vontades, individuais ou coletivas. E ainda que haja disputa efetiva pelo poder. O Dr. Tarso Genro diz que faria "250 Bancos Populares de Crédito" com o dinheiro da GM. A Dona Clênia Maranhão diz que faria uma pista rapidamente, sem conflito com moradores. Acredite quem quiser. 1998 e 2.000 vão dizer quem tem razão. Talvez, mais importante do que a maioria, é a existência de minorias que possam expressar-se, pressionar o poder a realizar alguma coisa e influir na disputa de poder.

Agora, nos dois casos não houve consensos. As minorias foram (ou vão) reclamar seus direitos no Tribunal de Contas e na Justiça. Se o financiamento for julgado ilegal, alguém tem de devolver o dinheiro público. Se alguns eleitores acham o financiamento demasiado ou imoral, ponto para a oposição. Se os vizinhos da D. Alzira ganharem suas causas e liminares, a pista sai em outro lugar, em outro momento. Se alguns acham que a prefeitura não respeitou os moradores, ou está enrolando os sambistas, ponto pra oposição. [Feio foi uns terem chamado outros de micuins ou racistas.]

Mesmo que alguém possa achar que os temas são chatos ou tolos, que a representatividade e/ou a participação são fracas, que as eleições são condicionadas pelas mídeas e pelo poder econômico, que o poder judiciário não é autônomo e suficientemente forte, ou ainda, que não sabemos bem o que queremos do país, pelo menos é muito melhor do que há 25 anos. Nessa época existia a Arena prometendo mercado e democracia e como aqui, na África do Sul e na Rússia vários chatos eram presos, demitidos, calados, torturados ou até mortos.