A ESSÊNCIA DO NÃO
 
por Makoonaima
de Los Angeles
 
SIM, SIM, li o NÃO de cabo a rabo. E parece que a essência do NÃO consiste em uma CONTRADIÇÃO FILOSÓFICA ESCANDALOSAMENTE ÓBVIA E INTRINSECAMENTE FECUNDADA NO ÚTERO DA FÉRTIL INTELIGÊNCIA DOS LEITORES CONTRIBUINTES. O que também não é bicho-de-sete-cabeças, já que humanos são, por natureza, contraditórios. Mas, porra, há que haver um limite, né? Pra corroborar, ofereço a receita para:

NÃO FAZER COMO HÃO DE FAZER E COMO TÊM FEITO. POR QUE NÃO?

1. NÃO à VERBORRÉIA-doença adquirida em atividades libidinosas irresponsáveis de prostituição do uso das palavras baseadas em julgamentos e preconceitos, normalmente criados na mente de elites que se acham e se pensam mais inteligentes ou menos idiotas do que os alvos de sua masturbação.

2. NÃO à auto-denominação "bravos", "jovens". Já, "Portoalegrenses", até que tudo bem.

3. NÃO à DICOTOMIA do estar, escrever, vomitar, pensar a favor ou contra.

4. NÃO às críticas a personalidades que supostamente abusam de sua popularidade, já que, TAMBÉM, qualquer idiota pode ter a própria homepage/website/sítio, ou seja lá o que for.

5. NÃO ao uso de dados do IBOPE ou qualquer uma dessas organizações de estatística e pesquisa para criticar a mídia e semelhantes. Convenhamos, camaradinhas, o NÃO, quer queiram quer não, faz parte da mídia. Ou já esquecemos que a INTERNET é o veículo de comunicação mais abrangente que há no mercado?

6. NÃO ao uso de expressões tipo "humilhar pobres" por aqueles que se consideram ALHEIOS ao grupo de "pobres". Caso contrario, usar-se-ia humilhar a NóS.

7. NÃO às criticas ao termo "elite", por aqueles que se consideram alheios à tal, mas que no fundo, bem que gostariam de ser incluídos em alguma elite qualquer tal como: intelectual, cineastas, revolucionários, inteligentes, excluídos, incluídos, vítimas massacradas da classe média, monopolizadores da informação, do intelecto, da cultura, da visão politizada, do melhor ponto de vista, ih, a lista é muito longa...

8. NÃO àqueles que se acham suficientemente qualificados e com o direito de MEDIR a quantidade de PODER que pessoas ou instituições têm ou deixaram de ter.

9. NÃO àqueles que só dizem contra porque é mais original e não têm nem interesse em apresentar uma alternativa.

10. NÃO às idiotices dos idiotas e às espertezas dos inteligentes.

11. NÃO aos torcedores fanáticos que se dizem imparciais e éticos.

12. NÃO à expressão "o melhor que o jazz produziu nos anos 90", reduzindo o mundo inteiro da música a um ponto de vista REDUCIONISTA individual.

13. NÃO a propostas tipo "troque o computador pelo livro e vice-versa". Será que os portadores destas propostas continuam escrevendos livros inteiros à mão-livre, em pleno século 21? Computador é uma MÁQUINA que executa, entre outras, a função de DATILOGRAFAR. Livros e computadores podem perfeitamente beneficiar-se mutuamente mas, é claro, são duas FERRAMENTAS distintas.

14. NÃO à literaturatura baseada no óbvio, tipo: "que tesão que me dá pensar em sexo, vou escrever pra criar tesão no leitor", em vez disso, masturbe-se uma, duas, até oito vezes se necessário for, e então experimente escrever sobre outro assunto. Se faltar assunto ou inspiração, experimente ir dormir. Se pintar insônia, leia um bom livro. Se o livro der tesão... Bom, volte à masturbação. Se isto tudo soar sem sentido, convide o Hare-Krishna da casa ao lado pra lhe fazer companhia. Quem sabe ele te inspire a escrever sobre a vida celibatária.

15. NÃO ao uso de comparações de escola de samba com partidos políticos e vice-versa, principalmente com a argumentação de que detesta um ou outro, ou ambos. Gosto é gosto, não se discute. Tão lembrados? Política, sim, se discute. E discussão política, pra ser válida, - isto é, pra beneficiar democráticamente a comunidade em vez de o ego do político - precisa estar desvinculada de gostos pessoais.

Mexa todos estes ingredientes, misture, deixe dormir, sentar. Pense no assunto ou, simplesmente, não dê a mínima.

Afinal, de um caráter sem caráter, não há muito o que esperar.

MAKOONAIMA, Los Angeles, abril de 1998 


P.S.: Depois de fechada esta edição do Não, chegou uma resposta às observações Makoonaímicas, intitulada "Há que haver um limite?" e assinada por um certo Venceslaoo Pietro Pietra. Na tentativa desesperada de aumentar o nosso Ibope (e na falta de um sushi gay ou de um anão debilóide), abrimos espaço para a polêmica.



 
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