O SÊMEN QUE PROCURO
por Clarice Rath (Rata)
 
 
O que é que está pegando em relação à sexualidade, se todos os direitos já foram conquistados, todas as combinações são rotineiras, ou suficientemente freqüentes para constarem das estatísticas e das notícias da mídia? Se a liberdade e as práticas evoluíram ou voltaram às suas formas primitivas eu não sei, só sei que se transa mais do que nunca, de mais diversas formas, seres inanimados com animados, entre espécies, inter-intra-e-contra sexos, intra-familiares, entre uma, duas ou várias idades geracionais, virtualmente, telepaticamente, pateticamente.

Da minha parte, só gosto quando a faísca do olho do outro, um homem - se é que este bicho em extinção ainda existe - penetra na minha pupila, e o seu sorriso fisga a minha boca, então eu sou capaz de deixar suas mãos vagarem por meu corpo à procura de meus desejos. Quando encontra a química que acelera meu coração, então eu deixo entrar, assim a busca fica mais difícil, porque lá dentro existem os segredos e os obstáculos de séculos de existência, lá dentro daquele buraco quente existem células que guardam a minha memória energética desde a criação do universo.

O calor persiste à espera de um jato que acalme a angústia da descoberta do sentido da vida. Não sei o que seria da terra sem o mar para lavar a lama e salgar todos os males, o sol sem os pecados da escuridão. Em se tratando de amor gosto de fazê-lo sob as bençãos da lua cheia e da liberdade do vento. Neste reciclar de vidas, nasci na lua cheia, concebi e pari meus filhos na lua cheia. Quando morrer outra vez tenho a certeza de que ela estará lá, até que eu mesma possa virar uma estrela.

O sêmen que procuro é o resto de mar que a terra ainda quer beber porque não conseguiu engolir todo no dia em que "fez-se a luz!". Eu sou a terra cansada de ver a floresta queimada por nada!