TEXTO AO VIVO
por Jorge Furtado
 
 
Tenho que escrever alguma coisa para o Não. O quê? A idéia original era resgatar o Não como um baluarte da livre expressão, um desaguadouro natural para onde escorram textos e idéias impublicáveis em qualquer outro órgão (ui!) de imprensa, por censura, cagalhonice ou desinteresse dos próprios ou por auto-censura, auto-cagalhonice ou auto-crítica. Só que tá virando uma espécie de revista literária. Bons textos, mas como é chato ler no computador! O único jeito é salvar e imprimir, o que exige textos pequenos ou enorme interesse e tempo livre do possível leitor. Têm um monte de livros ótimos que eu ainda não li, outros melhores ainda que eu preciso ler de novo, paradinhos e desligados, me esperando ali na estante, com a sedução táctil do papel, seu peso, sua capa. Livros não pegam vírus, são totalmente portáteis, dá até para guardar coisas dentro. Internet é para outra coisa. Para quê?

Internet pode estar para o texto impresso assim como a televisão está para o cinema. Só tem uma coisa que a televisão pode fazer e o cinema não: transmitir imagens ao vivo. Por melhor que seja um documentário sobre o pênalti não marcado contra a Argentina (Botou a mão na bola! É pênalti!) no jogo contra a Inglaterra, não vai ser mais interessante do que o lance, ao vivo, repetido 10 segundos depois de acontecido, em câmara lenta perfeita, em dez pontos de vista diferentes. O divertido da Internet é sua possibilidade de acesso. Posso escrever qualquer bobagem aqui e, alguns segundos depois, ser lido na Coréia. Provavelmente o coreano entrará por engano, procurando uma foto da Liv Tyler nua, já que o seu programa de busca encontrou esta expressão aqui no meio do meu texto. (LIV TYLER NUA! NAKED LIV TYLER, FREE IMAGES!). Inauguro pois, solenemente, agora (são 10 e 25, tá chovendo), minha sessão permanente eterna e definitiva até eu mudar de idéia neste prestigiado órgão (ui!) de imprensa. TEXTO AO VIVO é uma tentativa, falo para esta câmara? A outra? Sim, obrigado. TEXTO AO VIVO é uma tentativa de escrever COM UM MÍNIMO DE CENSURA, MANTENDO APENAS UMA CERTA REVISÃO ORTOGRÁFICA , por exemplo, só agora percebi que tinha acionado acidentalmente o "fixa maiúscula", aquela teclinha que os brasileiros chamam de "caps lock", e uma frase inteira saiu em maiúscula. Erros de ortografia eu prometo tentar corrigir. O que sair errado é por ignorância mesmo (para mim aquele português do Glauber - sem acentos, com zês e cás no lugar de esses e cês é uma mistura de ignorância e preguiça de olhar no dicionário).
 
 

 
Exemplos de "Textos ao vivo", de Jorge Furtado, disponíveis em outras seções (e clicáveis daqui):
 
RIO BAGUAL DO SUL
FERNANDO DE HENRIQUE E CARDOSO
PROBLEMA ÉTICO
A VOLTA DO URNINHA