Visitinha ao "Manifesto"
por Álvaro Magalhães
 
 
Há vinte e um anos, no tempo do velho NÃO, houve uma chapa pro dce-ufrgs não alinhada com os marxismos dominantes no meio estudantil, intitulada Manifesto. Alguns participaram das duas coisas, das festas da libelú e até iam à aula. [Que eu me lembre, o único "aparelho" que conseguimos foi a associação atlética da universidade, dirigida pelo "gordo" Lima, que passou a pregar a prática do esporte Não competitivo, fazendo memoráveis jogos de futebol entre os carros dos namorados noturnos do pátio prédio do Básico, nos intervalos das rodadas de Testão. Pode?]

O Giba - só poderia ser ele - guardou o panfleto "Amarelão". Buscar coerência é loucura. A coisa começava com uma visão anarco-estruturalista e não-liberal: "Liberdade é descobrir o direito de escolher qual prisão (entre a escola, o trabalho, o casamento, etc.)". O alvos principais eram o estado e a escola. Sendo não-liberal e não-capitalista, o manifesto pregava uma federação de oposições, sem controle central. Também, que a "sociedade civil" - o que tivesse fora do estado - resistisse ao estado autoritário construindo uma proposta popular. Curioso, não? Olha só:

a) o papo do manifesto parece com o papo petista e das suas administrações, excluindo a pitada anarquista, é claro. Ao que eu saiba, o pt chegou na fórmula pluralista, popular e democrática quase dez anos depois, no quinto encontro do partido. [Aliás, o pluralismo parece ser coisa do passado. Por exemplo, em um eventual governo Lula-Brizola, alguém que apoiou o Palmeira no Rio vai compor o governo? E, se o Olívio ganhar, não seria o mesmo com sinal trocado? Vejam quem coordena as duas campanhas...]

b) com o fim da guerra fria, os capitalistas voltaram a reivindicar a liderança dos destinos do mundo, como no final do século passado. Para muitos que assinariam o "Manifesto", a possibilidade democrática depende da sobrevivência de um estado nacional e até de uma escola capaz de formar gente e produzir inovações (e não só dar diplomas pra separar quem é de quem não é). Será mesmo? Ou será que é só desculpa, pelo fato de que muitos de nós hoje serem agentes estatais e até professores, como este modesto colaborador do NÃO? [Quando eu vejo até o velho grupo teatral anarquista local ser sustentado pelo diabo estatal...]

c) agora, quem continua mamando mesmo é o velho tubaronato(*) nacional. Numa das últimas revista Exame, o Streinbruck, o Nélson Sirotsky e o dr. Antônio Ermírio pediam um direcionamento desenvolvimentista ao FHC. Mas o negócio não era privatizar e tudo estaria resolvido ??? É muita cara de pau....

Aliás, finalmente poderemos ter um feudalismo brasileiro. Para circular pelas linhas telefônicas e ondas no território que seria nosso, temos de pagar pedágios aos nosso senhor feudal "pós-moderno" e "globalizado". Ou alguém acredita que não pagaremos tarifas de monopólio?

d) como não há mesmo lugar livre dos pecados e, principalmente, de pecadores, o negócio continua sendo escolher quais são as prisões a habitar. Ou NÃO?

(*) adjetivo momoso e carinhoso usado por R. Faoro em Os Donos do Poder referindo-se ao "empresariado" brasileiro.