SEXO COM MUMU (das histórias do Mig)
por Miguel da Costa Franco
 
 
Quando ela me estendeu o quinto, não resistiu. Tentou puxar assunto. Sacou que eu era um cara diferente. (E sou mesmo. Adoro mocotó, croquete, ovo duro. Eu sou assim: requintado, fino).

- Chegado num churrinho, cara? - perguntou.

E sorriu com tudo, da boca grande aos entre-peitos enormes, da frieira do dedão ao rasgão do guarda-pó. Era o momento. O segredo de tudo está em sentir a hora certa para o bote. Nisso, sou cobra. Fui para cima:

- De fato, “baby”...

(Sei me expressar: eu leio muito. Desde gibi até bula de remédio. Soletro até benzetacil).          Continuei:

- ... mas gosto mesmo é do teu jeito com o rolinho!

Envermelhou, olhou-me de lado.

- Que tipinho! - comentou, entredentes.

Teve que reconhecer. Enquanto preparava um outro churro, virou-me as costas.

- Não se envergonhe do seu talento, “cherry”. Com estas mãos, a Xuxa largaria os microfones da gurizada.

E ri com gosto, com malícia. Sou um gênio da frase solta. Ela não disse nada. Curvou-se mais ainda. Escondeu a carrocinha com seus ombros largos. Vi pulsar a veia do pescoço. Pura tesão. Sou “expert”, a vida me ensinou muito. O Parque da Redenção, também. Dei a primeira no pé de uma paineira. Pena que eu estava sozinho! Mas até hoje adoro unha comprida. Nas costas, claro.

- O próximo! - berrou ela.

- Eu mesmo, “darling”, estou sempre querendo mais.

Virei-a para mim e mostrei serviço. Fiz beicinho. Olhei-a nos olhos. Tremi as pestanas como só eu sei. Calmamente, amansei os dois cabelos que me tapam a testa. Passei lentamente meu dedo nas pelancas moles do braço. Pensei tê-la ouvido gemer. Rocei meu joelho no dela, meu dedão no joanete. Pensei tê-la ouvido gritar. Pensei cada coisa! Então contornei a carrocinha no meu passo de Valadão. Por fim, falei:

- E pode fazer mais três, “baby”. Fica de sobremesa. Dois prá cada um. Lá em casa, faço eu a janta.

Eu sou assim: moderno, democrático. Gosto de dividir tarefas.

Fêz-se de difícil. Endureceu as bochechas e empurrou o ar com força. Girou o corpanzil e me olhou direto com o olho bom. Fêz cara de nojo.

- Voando alto, hem, meu chapa? - disse ela, bufando. Devia estar ardendo. - Te manda!

Aoro esses diálogos consistentes, sou duro, cru, fodão. Me apresentei:

- Eu sou assim, “my love”. Por isso mesmo me chamam de Mig. Como os jatos russos. Quem voa baixo não passa dos joelhos.

 E taquei a mão nas coxas dela. Eu sou rápido, oportunista, ousado, louco.

Agarrou-me pelo pulso. Senti seus nervos me alfinetando. Que mão! Maciez preservada na rotina do óleo de soja. Bateu em mim um calor sufocante de janeiro. A cueca velha se rompendo, o mumu dos quatro churros já traçados em processo de conversão. Puxei-a para mim e grudei o ai-de-ti nas carnes dela. Com a outra mão, afofei o pompom das tetas. Deixei cair a língua na saboneteira do ombro nu. Quando ela espremeu o tubo de mumu na minha cara me dizendo coisas, não me aguentei. Sou muito sensível.

- Acabamos juntinhos? - perguntei.

Eu sou assim: interessado, bom.

Não se conteve. Aproveitou o meu momento de fraqueza e me atirou na grama. Adoro isso, a emoção do impulso, o sexo cheio de variantes. Dei uma lambida provocante no doce que tapava minhas bochechas e lhe ofereci do meu creminho. (O que sobrou na ponta do malvado, é claro). Sou educado, gentil. Foi quando levei o lataço. Acordei com a cara cheia de formigas. Nem sombra da bandida. Mulher, hoje, já não quer mais compromisso. Divertiu-se e pronto.

Nem se lembrou de me cobrar o quinto churro!