- Chegado num churrinho, cara? - perguntou.
E sorriu com tudo, da boca grande aos entre-peitos enormes, da frieira do dedão ao rasgão do guarda-pó. Era o momento. O segredo de tudo está em sentir a hora certa para o bote. Nisso, sou cobra. Fui para cima:
- De fato, “baby”...
(Sei me expressar: eu leio muito. Desde gibi até bula de remédio. Soletro até benzetacil). Continuei:
- ... mas gosto mesmo é do teu jeito com o rolinho!
Envermelhou, olhou-me de lado.
- Que tipinho! - comentou, entredentes.
Teve que reconhecer. Enquanto preparava um outro churro, virou-me as costas.
- Não se envergonhe do seu talento, “cherry”. Com estas mãos, a Xuxa largaria os microfones da gurizada.
E ri com gosto, com malícia. Sou um gênio da frase solta. Ela não disse nada. Curvou-se mais ainda. Escondeu a carrocinha com seus ombros largos. Vi pulsar a veia do pescoço. Pura tesão. Sou “expert”, a vida me ensinou muito. O Parque da Redenção, também. Dei a primeira no pé de uma paineira. Pena que eu estava sozinho! Mas até hoje adoro unha comprida. Nas costas, claro.
- O próximo! - berrou ela.
- Eu mesmo, “darling”, estou sempre querendo mais.
Virei-a para mim e mostrei serviço. Fiz beicinho. Olhei-a nos olhos. Tremi as pestanas como só eu sei. Calmamente, amansei os dois cabelos que me tapam a testa. Passei lentamente meu dedo nas pelancas moles do braço. Pensei tê-la ouvido gemer. Rocei meu joelho no dela, meu dedão no joanete. Pensei tê-la ouvido gritar. Pensei cada coisa! Então contornei a carrocinha no meu passo de Valadão. Por fim, falei:
- E pode fazer mais três, “baby”. Fica de sobremesa. Dois prá cada um. Lá em casa, faço eu a janta.
Eu sou assim: moderno, democrático. Gosto de dividir tarefas.
Fêz-se de difícil. Endureceu as bochechas e empurrou o ar com força. Girou o corpanzil e me olhou direto com o olho bom. Fêz cara de nojo.
- Voando alto, hem, meu chapa? - disse ela, bufando. Devia estar ardendo. - Te manda!
Aoro esses diálogos consistentes, sou duro, cru, fodão. Me apresentei:
- Eu sou assim, “my love”. Por isso mesmo me chamam de Mig. Como os jatos russos. Quem voa baixo não passa dos joelhos.
E taquei a mão nas coxas dela. Eu sou rápido, oportunista, ousado, louco.
Agarrou-me pelo pulso. Senti seus nervos me alfinetando. Que mão! Maciez preservada na rotina do óleo de soja. Bateu em mim um calor sufocante de janeiro. A cueca velha se rompendo, o mumu dos quatro churros já traçados em processo de conversão. Puxei-a para mim e grudei o ai-de-ti nas carnes dela. Com a outra mão, afofei o pompom das tetas. Deixei cair a língua na saboneteira do ombro nu. Quando ela espremeu o tubo de mumu na minha cara me dizendo coisas, não me aguentei. Sou muito sensível.
- Acabamos juntinhos? - perguntei.
Eu sou assim: interessado, bom.
Não se conteve. Aproveitou o meu momento de fraqueza e me atirou na grama. Adoro isso, a emoção do impulso, o sexo cheio de variantes. Dei uma lambida provocante no doce que tapava minhas bochechas e lhe ofereci do meu creminho. (O que sobrou na ponta do malvado, é claro). Sou educado, gentil. Foi quando levei o lataço. Acordei com a cara cheia de formigas. Nem sombra da bandida. Mulher, hoje, já não quer mais compromisso. Divertiu-se e pronto.
Nem se lembrou de me cobrar o quinto churro!