GOSTEI, NÃO GOSTEI (4) 

anotações sobre filmes

vistos por Nelson Nadotti

( mas não é crítica;

apenas parcialidade subjetiva

de quem acordou atacado)

"O Atalante", de Jean Vigo - Em meia hora me deu vontade de olhar o relógio, sinal infalível de que o filme não ia dar certo, como não deu. "Zero em Comportamento" era muito melhor, até parece ser de outro diretor. Uma historinha: a fama deste filme começou quando a federação nacional de cineclubes franceses exigia sua recuperação, depois do lançamento de duas montagens que não seriam fiéis à concepção do diretor, então já falecido. A versão que vi é a "fiel". Será que as outras não eram melhores? Engraçado como se cria um mito em torno de nada. E mais: no pequeno documentário que apresenta o filme, chegam à pretensão de classificar "O Atalante" como sendo "o ápice do cinema". É mole?

"Caminhando nas Nuvens", de Alfonso Arau - O filme conta a história direitinho, com narrativa clássica - mas só até a cena final, quando amanhece na fazenda após o incêndio no vinhedo, e a mocinha aparece com a cara cheia de fuligem, como se saísse de uma comédia de pastelão após um charuto explodir e deixá-la preta. A platéia TODA caiu na risada, inevitável e constrangedora, apesar da intenção de construir a cena mais dramática do filme. Preciso dizer mais?

"Os comancheros", de Michael Curtiz - Tem uma cena em que mais de trinta comanches atacam a tiros a casa onde John Wayne e três companheiros dos Texas Rangers se defendem também a tiros, completamente desprotegidos atrás de uns sacos, do lado de fora da propriedade. Com toda essa diferença numérica, os índios só ficam dando voltas em torno da casa e caindo dos cavalos, alvejados como patos num stand de tiro. É tão absurdo que só falta Wayne jogar buraco entre um disparo e outro. O pior é que este foi o último filme do maravilhoso Michael Curtiz.

"O espírito do silêncio", de Sam Shepard - O título original é "Silent tongue". Tranqüilamente, um dos piores filmes de todos os tempos. Se soubesse, não deixava de não ver.

"Que é que há, gatinha?", de Clive Donner - O primeiro roteiro de Woody Allen inventa um gênero de comédia maluca moderna que até hoje ainda subsiste. Apesar do visual com o melhor dos anos 60, o filme não consegue ser tão engraçado quanto deveria. Na maior parte do tempo, todos tentam achar o tom, no elenco invejável: imagine juntar Peter Sellers, Peter O'Toole e Romy Schneider (além de Ursula Andress!), no auge de suas carreiras, e ainda promover a estréia de Woody Allen como ator de cinema (um feito, digno do Ripley's "Believe it or not"). A montagem em muitos momentos é super-acelerada, e na perseguição final há uma série de gags extremamente bem realizada. O resultado parece um ensaio para "Cassino Royale", este sim acertando em cheio, e ainda repetindo quase todos do elenco de "Que é que há...".

"Lucie Aubrac - um amor em tempo de guerra", de Claude Berri - Mulher de dirigente da Resistência francesa, em 1943, quer tirar seu homem da prisão, onde foi condenado à morte pelos nazistas. O problema aqui é que o homem é narigudo demais para justificar tamanho interesse.