Droga Moderna

 

Gabriel Brust

 

Muito se fala sobre as vantagens de conhecer e conversar com pessoas pela internet. Entre as vantagens citadas está sempre o fato de você não saber como é a fisionomia da pessoa com quem conversa, não existindo assim um pré-julgamento baseado na "embalagem" do produto, fato comum nos bares e outros lugares do tipo. Não menos comum são as perguntas "como você é?" nas conversas on-line. Inúteis, já que a mentira (ou a "otimização de suas qualidades") é inevitável. Sem falar no fato de as pessoas poderem mentir também sobre suas características psicológicas, deixando transparecer uma pessoa que na verdade não são. Ou seja, se não partirmos do princípio de que ninguém mente na internet, todos os pontos positivos dos chats irão por água a baixo. Mas isso é secundário se comparado aos problemas que os bate-papos "em tempo real" (onde a única coisa real é o tempo mesmo) podem trazer para o seu dia-a-dia.

O que parece uma diversão no início, pode ficar mais perigoso a medida que a sua conta telefônica começa a aumentar. E eu não estou falando da questão financeira. Antes fosse. A internet e os seus chats fazem as pessoas se tornarem dependentes de conversas escritas. Após algum tempo conversando através do teclado as pessoas se habituam de tal forma que se esquecem como se puxa papo com alguém na vida real, olhando nos olhos de quem pode ser seu maior inimigo ou o amor da sua vida. Depois de chegar na frente dessa pessoa e não fazer a conversa sair da primeira tecla, você chegará à terrível conclusão: agora só consegue expor suas idéias escrevendo. Ou mais: você não consegue mudar sua expressão facial, já que ela não é importante em uma conversa pelo teclado. Você se tornou uma pessoa sem o que dizer e com a expressão de um robô. Sem um teclado na mão você não é nada.

Quando questionado em um chat você sempre tem aquele tempo para pensar na frase que se encaixaria melhor no contexto da conversa ou na frase que cairia melhor ou ainda, mais freqüente, na mentira menos descarada. Não ficou bom? Aperte a tecla "backspace" e arrume. A outra pessoa nunca saberá porque você demorou pra responder, talvez pense que você digita muito devagar ou que está fazendo alguns downloads ao mesmo tempo em que conversa com ela. A verdade é que este sagrado tempo para resposta não nos é oferecido em uma conversa cara a cara. Se você não responder com uma certa rapidez, será considerado um "marcha-lenta" ou inseguro; se falar uma besteira, a tecla backspace não estará ali para ajudá-lo. A sua expressão facial e o tom da sua voz nunca são captados pela internet, sendo assim, a única coisa que determinará a forma como você falou aquilo será a imaginação do outro usuário. Já em uma conversa ao vivo, a garota logo perceberá que aquele seu "sim" teve o mesmo valor de um "talvez" e o diretor da empresa logo perceberá que o seu "boa idéia, chefe" quis dizer "por mim tudo bem, só quero meu salário no fim do mês". O seu rosto e a sua voz dirão. Não pode mentir.

Enfim, os recursos que nos são oferecidos em uma conversa virtual jamais poderão ser utilizados na vida real e quem se acostumar demais com eles poderá ter grandes problemas. Mas bem que não seria ruim se, no momento em que nos colocassem na parede ("aceita Maria como legítima esposa...?", "senhor Gomes, o relatório está pronto?") você pudesse meter o dedo no "ESC", ou, em uma medida mais drástica, cancelar a conexão: "tchau, adeusinho, até nunca mais, bye bye..."

 

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