Um NÃO respeitoso ao Jorge
 
por Kleber Boelter 26/10/99 - 23:39
 
 
Descobri o NÃO através de um conhecido, que pediu uma colaboração há algumas edições atrás. Antes de topar, dei uma olhada no dito e compreendi a linha editorial. Mas achei que idéias diferentes sempre são bem vindas, no mínimo para confirmar as nossas próprias, e mandei bala. Agora sei porque não fui espinafrado naquela ocasião: o Jorge estava fora do ar. Mas agora tive minha cota de cascudos.

Bom, falando sério, agradeço os comentários do Jorge Furtado. O simples fato de ter merecido a resposta dele já significa que minhas idéias e o meu texto incomodaram, mexeram. E eu gosto demais disto. Escrevo o que penso e não para agradar alguém. Mas também escrevo para fazer com que as pessoas pensem e criem suas próprias convicções, e não andem por aí feito papagaio de pirata, seja repetindo idéias de direita, de centro ou de esquerda: as pessoas têm que criar suas próprias idéias.
Mas eu queria fazer apenas um comentário.

O Jorge não gostou do meu último parágrafo porque fez uma analogia equivocada. Achou que pelo fato de eu estar metendo o pau nas elites e nos políticos (o que é verdade), eu estava apoiando a esquerda (que é o equívoco). Esta contrariedade fez com que ele achasse que minha conclusão saiu da cartola. Nada disto. Minha conclusão está embasada naquilo que é o cerne de minha argumentação: a importância do Estado de Direito e dos Direitos Individuais. O grande problema é que este arcabouço legal, cujo principal objetivo deveria ser exatamente proteger os mais fracos da violência que sempre esteve a serviço dos mais fortes, faz exatamente o contrário.

Mas o mais importante é que a gente pense: deve haver algum motivo muito forte que fazia com que os alemães orientais pulassem o muro e corressem para o lado ocidental. E deve ser um motivo parecido que faz com que os cubanos se joguem ao mar infestado de tubarões em jangadas suicidas para fugir do "paraíso"  cubano em direção ao " inferno imperialista" de Miami. Como devem ser semelhantes os motivos que fazem com que os "líderes do povo", em ambos os casos,  ordenem atirar nessas pessoas pelas costas. Acho que estes motivos são suficientemente importantes para não serem classificados jocosamente de "kit-preconceito"  e simplesmente "não usá-los mais". Lembrai a citação: "quem não aprende com a história, está condenado a repetir seus erros, etc, etc".

Também não afirmei que não era para votar no Lula. Minha analogia a uma solução barbuda veio do gancho do texto do LFV. Tenho a mais profunda compreensão que o Jorge queira eleger um cara muito diferente do Collor, e este fenômeno atinge uma grande quantidade de amigos meus que encheram o saco da corrupção, das mentiras e da embromação de nossas oligarquias que sempre dominaram a política brasileira. Quando eu falo no extremo oposto do Collor, me refiro às oposições entre o fascismo e o socialismo. E meu alerta é sobre os pontos terríveis que, naquele extremo onde os opostos se encontram, acabam sendo muito semelhantes em ambos os casos: a intolerância e o autoritarismo.

Para finalizar, se interessar possa, minhas convicções sobre alguns sujeitos mencionados pelo Jorge:

- Collor: todos sabiam que era um fascista e louco de atar. Deu no que deu. Aliás, o confisco de poupanças foi um dos maiores crimes coletivos já praticados neste país. Este sujeito (e a Zélia junto), deveriam estar até hoje acorrentados numa masmorra. Para o bem da democracia e em nome da solidariedade, deveriam estar lá acorrentados com eles todos os parlamentares, eleitos apenas para nos defender deste tipo de barbaridade, que votaram covardemente a favor do assalto;

- FHC: um socialista inteligente e bem intencionado. Nunca a esquerda teve um candidato tão bom. Mas foi moído pelo sistema. No fundo, não foi uma fraude, mas um fraco.

- ACM: o que de pior o Brasil tem em termos de patrimonialismo e populismo. Com um terrível agravante: é inteligente e corajoso à beça. Sugeriria mandá-lo para Miami, com o perdão dos cubanos que conseguiram melhorar de vida.

- Ciro Gomes: um Collor piorado. O llouco anterior era um fascista assumido, e tinha um penteadinho que não se deixava enganar. Quem votou nelle teve o que merecia. Este louco atual pousa de socialista, perdão, social-democrata, perdão, partidário de uma economia social de mercado, perdão, um seguidor da 3-a via, mas é algo como uma mistura incoerente de Keynes com Milton Friedman. Na verdade, ele planejou ardilosamente um discurso para agradar a Gregos e Troianos. Estes caras, quando chegam no poder, descobrem (se já não sabiam), que esta maçaroca só dá indigestão. E aí partem para golpes de karatê, armas com uma única bala para enfrentar tigres, e esta história que vocês já conhecem.

- Lula: também um sujeito bem intencionado, cujo sonho é fazer tudo o que o Fidel Castro fez, apenas com uma diferença: a revolução dele daria certo. Como o Collor, também quer dar um tiro no tigre. Só que o tigre do Lula não é uma metáfora numérica, mas uma elite gorda e voraz com endereço incerto e o CPF do motorista. O resultado a gente já sabe: a balla do Collor acabou com a classe média; a do Lula não tem mais ninguém para matar (os alvos há muito trocaram Miami por Paris).

PS: Apenas em respeito aos que tem um mínimo conhecimento do que seja uma economia de mercado, esclareço que não existem órgãos mais anti-liberais, anacrônicos, intervencionistas e economicamente contraproducentes do que o FMI, BIRD e assemelhados. Eles foram inventados apenas para convencer os trouxas a fazerem o que é bom para o poder econômico. E funcionam direitinho, tanto com otários de direita quanto de esquerda. Basta consultar o jornal e ver quem anda diariamente esmolando o dinheiro deles.
Para quem nunca investiu um tempinho para dar uma lida em Adam Smith, Frédéric Bastiat e Ludwig Von Mises, é melhor continuar usando o rótulo "neo-liberal". É uma invenção da esquerda mesmo e significa tudo aquilo que dá errado no mundo e eles não sabem porque, e tudo aquilo que dá certo mas eles não admitem copiar.
 
 
Kleber Boelter
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