Violência na tevê, uma abordagem idiota

de Eduardo Nasi

Não leia este texto. Eduardo Nasi falar sobre violência na televisão, mesmo sem ter televisão em casa. Aos que teimarem em persistir, Eduardo Nasi alerta que só se referirá a si mesmo na terceira pessoa. Eduardo Nasi poupá-los-á de abordagens sociológicas ou semiológicas a respeito do tema, mas sem abrir mão das mesóclises. O problema é que Eduardo Nasi gosta da democracia. E, se o Pelé pode se referir a si mesmo na terceira pessoa, se o Machado de Assis pode usar mesóclises e se qualquer morrinha pode analisar a violência da tevê, ele também pode. Há quem suspeite que Eduardo Nasi não quer leitores, coisa da qual o próprio duvida. Afinal, todo mundo gosta de violência na televisão.

A humanidade assiste à violência na tevê desde a mais tenra infância. O leitor que não cheirou muita maconha há de se lembrar que assistia a Tom & Jerry. Eduardo Nasi teve até uma professora de religião que dizia que Tom & Jerry é pura violência. Vocês sabem: o rato machuca o gato. A mesma freira dizia que as crianças acabavam imitando o desenho. Só que o gato, nas palavras dela, "se consertava". As crianças, não. Isso é uma grandessíssima injustiça. Afinal, por que jogar toda a culpa no Jerry? O Ligeirinho, o Pernalonga e aquela ave que fazia bip-bip também maltratavam seus amiguinhos, e deles ninguém fala.

Quando a gente é criança, os anos passam rapidinho. E chegam os Superamigos – e Eduardo Nasi vai chamar de velho quem lembrar das matinês do Tom Mix na infância, até porque o primeiro desenho do Super-Homem estreou durante a Segunda Guerra. Aí os supervilões batem nos super-heróis, que batem nos supervilões. Aí, pelo menos, já aparece a vingança, aquele sentimento nobre que passará a guiar a vida de todos os protagonistas da novela das oito.

A novela das oito, aliás, é um momento crucial na puberdade midiática da população brasileira. Os teledramas tornaram-se os responsáveis pela definição do sexo social do indivíduo. Como se sabe, as fêmeas vêem novelas. Como conseqüência, desenvolveram ou a cara de boba da Regina Duarte ou a maldade da Renata Sorrah. Os jovens machos, mais afeitos ao Supercine, preferem o bigode igual ao do Chuck Norris. Vale lembrar que Eduardo Nasi é tão democrático que se dá ao direito de ser generalista como todo mundo. Por isso, não vai citar casos como o do seu amigo Carlos Roberto, que pelou a cabeça para usar uma peruca igual ao do Zacarias. E, para ser bem democrático, Eduardo Nasi - que não entende nada de psicanálise - vai se usar de Freud para explicar que os meninos que querem ter um bigode igual ao do Chuck Norris desejam, na verdade, ter um pênis do tamanho das armas do Chuck Norris. Aliás, os homossexuais preferem o McGiver: eles querem ter um pênis do tamanho da bomba feita com chiclete e cinzeiro.

É por isso que em Bagé eles só vêem O Barco do Amor.