SAIA DO GUARDA-ROUPA E ASSUMA: EU SOU BREGA!

por Adriana Amaral

 

Responda honestamente às perguntas abaixo, considerando o princípio renatorussoniano: mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira.

1. Algum dia você já escutou a rádio Continental - aquela em que o locutor complementa com Rede Pampa de Comunicação?

2. E já comeu pêssego enlatado com creme de leite como sobremesa ou já tomou Fanta uva (serve guaraná Fruki)?

3. E por um acaso você sabe o que fazia o Pablo no antigo programa Qual é a Música do SBT?

Bom, se você respondeu não para as três questões, dê o fora, não precisamos de você, provavelmente você passa o tempo todo vendo filmes de Kieslowski, discutindo a sua interpretação de Ulisses do Joyce nas mesas de bar ou então falando com aquela sua amiga artista plástica sobre a nova instalação de legos que ela está preparando para a próxima Bienal.

Agora, se você disse apenas um sim, mesmo que mental e impulsivamente para apenas uma pergunta, você está perdido, pois já teve o seu momento brega e em breve irá precisar de mais. We want you, We want you, We want you as a new recrute, como diz o Village People na canção In the Navy. É o vírus do brega pipocando no seu sangue. Primeiro você tenta negar, você se apega na sua extensa formação filosófico-literária e estética, mas pouco a pouco você se entrega e confessa: sim, eu já dancei Sandra Rosa Madalena!

E para que você não tenha que sofrer calado em público, já existe a solução. Venha para o ABBA, o Acervo Brasileiro do Brega Artístico! No ABBA você é Livre para Voar, seguindo o seu Coração Pirata Como uma Deusa. E caso você Não se reprima ainda tem a chance de encontrar a Menina Veneno. Bom, mas afinal pra quê tudo isso, deve estar se perguntando o incauto internauta que deu de cara com esse texto no NÃO. Tem gente que participa de fã-clubes, outros vão ao jogo do Inter, outros são chicoteados na cama e outros reclamam da musiquinha do gás que os acorda pela manhã. Em resumo, apenas mais um grupo de pessoas.

Cansados da cabecice reinante na inteligentzia de Porto Alegre um grupo de amigos das mais diversas classes, cores, sexualidades e religiões resolveu se unir e de tempos em tempos assistir a sessões de filmes como Vem Dançar Comigo e Xanadu, a videoclipes dos Carpenters, além de, é claro, escutar toda a caixa de 4 CDs dos suecos inspiradores do acervo, o próprio ABBA.

Mas engana-se quem acha que o ABBA é um manifesto contra as "belas artes", ou contra os "alternativos". Há membros do ABBA que curtem os Mutantes, há os que gostam de poesia vitoriana e há até os que assistem Pasolini. Mas uma vez que o brega verdadeiro e engraçado da Perla e do Barry Manilow estão meio perdidos no meio das falcatruas de É o Tchan e dos grupos de pagode, quem sabe possamos resgatá-los dos arquivos do Vídeo Show para uma noite de risadas e diversão.

 

Adriana Amaral
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