500 anos do Brasil em Londres (*)
Por Tomás Creus

Poucas vezes se viu um esforço de relações públicas tão intenso para promover a imagem do Brasil no plano internacional como com essa história dos 500 anos. Embora eu e a maior parte da população brasileira não entenda o que há para se comemorar, a festa continua, com um gasto de milhões de reais que poderiam ser melhor utilizados na construção de escolas, bibliotecas ou postos de pedágio. Ok, esqueçam os postos de pedágio.

A questão é que, agora, a festa chegou a Londres. Uma das mais recentes "Time Out" (guia semanal da vida londrina) teve como tema o "Brasil 500", e a Gisele Bundchen na capa. A revista incluiu ainda um artigo sobre os brasileiros que estão fazendo acontecer em Londres (estranhamente, meu nome não foi citado), sobre onde conseguir comida e bebida brasileira (incluindo um drinque que a revista, em geral bem-informada, chama de "carpirinha") e ainda uma entrevista com Caetano Veloso, que está vindo em junho para um par de shows. Também vêm aí João Gilberto, Hermeto Pascoal e Lenine. E no meu amado NFT passarão - sacrilégio! - um ciclo de filmes brasileiros, centrados na figura de Cacá "Orfeu" Diegues, Bruno Barreto e (cito da revista) "novos valores" como Fábio Barreto. O que é isso, companheiro? Felizmente, para contrabalançar, é claro que também passam um par de filmes do Babenco, mais todos os do Walter Salles ("one of the most exciting movie-makers at work today") e ainda uma mini-retrospectiva do Glauber.

Embora em Londres a fascinação com o Brasil não chegue perto da que ocorre na França (onde também aconteceu um ciclo de filmes brasileiros, e onde vi na capa da revista semanal "Le Point" uma reportagem intitulada "Brasil, gigante do futuro" - e não era ironia), a comunidade londrino-brasileira é razoavelmente numerosa, e há vários restarantes ou cafés com nomes ou temas brasileiros, e ainda uma festa mensal no ICA chamada "Bat-Macumba". Reportagens sobre o Brasil na imprensa local são raras, embora tenha chegado a sair uma reportagem sobre o protesto dos índios na comemoração (mas o que tanto se comemora?) dos 500 anos, embora não tenham mencionado a "catastrófica" destruição do relógio da RBS... É possível que agora, com a proximidade do jogo Brasil X Inglaterra, os jornais locais comentem um pouco mais sobre esse curioso país do outro lado do oceano. Mas talvez eu nem fique sabendo, já que quase não leio jornais (estou descobrindo as vantagens da "alienação") e, mesmo, não sou tão fanático assim por futebol (fiquei sabendo do jogo por um e-mail de alguém aí do Brasil). Mas não se preocupem, torcerei pelo Brasil, desde que não inventem de fazer nenhuma outra comemoração do "descobrimento" por pelo menos mais 500 anos.


(*) Nota do Autor: Este texto é parte do Chá com Leite, boletim mais-ou-menos mensal enviado de Londres a amigos e interessados ou nem-tanto (escrevam para tomtom4now@yahoo.com - ou não escrevam, já que estou pensando seriamente em interromper o boletim, ou torná-lo bianual). Sorry, não deu tempo de escrever um texto sobre Londres exclusivo para o Não.
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