Quem Faz O Seu Tipo
por Giuseppe Zani

Eu adoro quando ele me bate. A expressão de satisfação no seu rosto cada vez que põe as mãos em mim. Bem verdade que ele andou machucando o mindinho nos últimos tempos tempos e, pensou até em me trocar por outra. Que assim não ia dar. Mas ele deu um jeito em mim e desde então tem sido um a a a a a... interminável.E as histórias que ele me conta. É mesmo um pervertido. Vestido com aquele uniforme, ele me pega e me faz subir e descer. É assim todos os dias. Hoje ele resolveu me levar para conhecer a sua casa.

Saímos a pé. Eu senti que ele estava nervoso. Pensa que ninguém nota. Mas eu vi o suor brotando da camisa dele. Sua casa parecia ser longe, já tínhamos andado várias quadras e, quando pensei que estávamos chegando, ele parou para esperar o ônibus. Nesse meio tempo não trocamos uma palavra sequer. Ele sempre falava comigo, trocava idéias, pedia opiniões. Costumávamos discutir os seus textos juntos. "Acho que essa mulher está muito falsa. Ela não ia topar ir para a cama dele no primeiro encontro, ia?" E olhava para mim, esperando alguma resposta. Mas agora nada. Na rua ele parecia outra pessoa. Sequer me dava a mão. Levava a sacola de plástico. Parecia querer me esconder, como se eu não tivesse dignidade, como se eu fosse uma outra.

Não sei se foi o roubo, mas ele parecia apavorado. Olhava para todos, obliquamente, tinha impressão de que todos o vigiavam. No entanto, como ninguém suspeitasse de nada, ele foi ganhando confiança. Aquela sensação de estar quebrando as regras, excitava-o. Pude sentir no ônibus, quando ele me pôs no colo, sua incontida ereção. Chegando em casa, ele me largou na sala e foi correndo ao banheiro, satisfazer-se sozinho. Demorou meia hora, voltou para a sala e só então olhou para mim. Era a primeira vez que ele me olhava naquela tarde. Eu estava muito magoada, puta mesmo. Mas aí ele me veio com aquele seu sorriso, me deu uns beijinhos e eu não resisti. Deixei-o colocar-me sobre a mesa e foi ele começar a usar aqueles dedos mágicos que eu fazia tudo o que ele quisesse. Ele olhou pensativamente para mim. Alisava-me com a ponta dos dedos e, quando eu já estava tinindo, ele entrou num transe e me bateu durante uma meia hora. Só então tirou de dentro de mim e foi ver o que tinha feito.

Nessas horas, quando ele me ignora, eu me sinto usada. Sei que é um abuso, mas eu tolero. Tenho consciência de que já não sou mais a mesma. Ando meio gasta. Na verdade eu tenho medo, com tantas novidades aí fora. Vai que ele encontra uma outra que faça o mesmo tipo que eu e seja mais nova, mais bonita. Sem falar das teclas. Eu sei que não sou qualquer uma, mas também não sou a última Olivetti.

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