AUSLÄNDER

por Leandro Indrusiak

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Viver num país diferente é diferente. Por mais que se fale em aldeia global, pessoas sem fronteiras e cidadãos do mundo, não consigo crer que alguém ache fácil essa de trocar tudo e ficar numa boa. Pra começo de história, tem o problema do idioma. Na Europa é impossível andar de transporte público sem ouvir uns quatro ou cinco idiomas diferentes. Com guerras na África, Oriente Médio, Balcãs e ex-repúblicas soviéticas, os países mais ricos como a França, Alemanha e Inglaterra ficam sem ter o que fazer com tantos imigrantes. E - reforçando o meu argumento - cada um desses indivíduos tenta manter seus costumes: indianos de turbante e africanas vestidas com estampas de tigre são tri comuns. E o incrível nisso tudo é que volta e meia esse pessoal vem te pedir informações numa língua que tu nem sabe qual é, só porque tu veste roupa comum e não parece ser um estrangeiro exótico. Tou pensando em sair pilchado quando precisar usar o metrô. Outro problema idiomático ocorre com os atendentes de lojas e repartições em geral. Eles sempre retrucam! Não se satisfazem com a frase que - com sacrifício - a gente decora pra pedir o que precisa, e ficam dando uma série de sub-opções incompreensíveis, quando a gente quer apenas que eles nos entreguem o produto e peguem o dinheiro. Mudando da língua falada pra língua gastronômica, outro problema aparece. Acostumar com uma culinária diferente é mais difícil do que se espera. Os temperos, os preços, as misturas, tudo parece absurdamente diferente. Numa viagem de 15 dias, isso não chega a incomodar, mas quando se percebe que a falta de arroz com feijão é algo que tende ao permanente, e que a carne mais parecida com uma picanha custa o equivalente a 50 reais o quilo, o sujeito passa a ter pesadelos. Acho que tem um componente psicológico nisso tudo, pois mesmo iguarias que no Brasil não me empolgavam agora parecem ótimas, pelo simples fato de que não as encontro aqui. Por outro lado temos algumas compensações, como a Fanta surpreendentemente mais tragável e uma variedade obscena de cervejas. Mas o mais irritante de tudo é a onipresente sensação de ser estrangeiro. Aquela possibilidade de ser xingado, preso, multado ou repreendido por alguma regra ou lei que tu violou sem saber. Aquele cartaz escrito com uns caracteres incompreensíveis e que tá dizendo que isso que tu tá fazendo é proibido. Aquele olhar da velhinha atrás de ti na fila, e o do fiscal do metrô. Enfim, um prato cheio pros paranóicos e afins.

Dizem, entretanto, que tudo isso passa, e que a capacidade de adaptação do ser humano a ambientes adversos é surpreendente. Mas não creio que eu vá me acostumar com a quantidade de seguros obrigatórios - já me empurraram de saúde, desemprego, carro, incêncio, vida - e com o preço dos carros usados. Semana passada quase comprei um BMW pelo equivalente a mil reais...