O Diário de Claudeth

(do Taj-Mahal passando por Paris e acabando em Viamão)

por Lulit

lulit@terra.com.br

Estava eu tentando sair da Índia. Não que eu não goste de tomar refri cola falsificado, é que eu odeio qualquer cola mesmo de verdade, mas não tinha água mineral, não tinha qualquer tipo de água e eu já tinha vomitado nos meus pés uma espécie de coisa ácida identificada como suco de laranja. Depois, na pensão, tive a coragem de tomar chá fervido com água, não sei bem de que origem. Mas era um chá laranja, que era absolutamente maravilhoso e que me revigorou a ponto de conseguir visitar o Taj Mahal. Vinda de Darhamsala, em direção ao sul em caronas diversas , em diferentes meios de transporte como elefantes, centauros , carroças , ônibus e indianos. Indianos: fui me apaixonar por um. Até agora eu não sei qual categoria de indiano que ele era, mas eu falava inglês e ele falava alguma coisa parecida com inglês, sendo nosso contato plenamente realizado. Ele preliminou com um papo em cima da minha blusa da c.i.a que tinha uma deusa indiana ou budista ou sei lá que santa, mas ele disse assim: Budah! Eu disse: Ah! Ele disse algo como: tenho Buda em meu coração. Eu também, meu amor. Ele tentou enrolar um papo como: minha mulher não consegue ter filhos. Eu disse : Aí que azar, eu também não consigo. O problema é que de alguma maneira feia, ele tinha olhos amendoados lindos, pele de mel linda e um cheiro que lembrava almiscar, bem de longe . Buda, alá, jeová, krishna, jesus, maria, josé. Ele era meio sem jeito, meio apressado, mas com uma energia selvagem pura, que meus deuses! Ensaiei com ele um mantra que começava num chiado e terminava num longo gemido. Mas aí ele começou entrar numas que não estava certo porque ele tinha mulher, estas coisas. Queria ter filhos. Bem, e o que a gente tava fazendo? Não é assim que se faz filhos no oriente? Lá no ocidente é. Não entendeu ou não gostou da piada. Aí a questão linguística ficou mais complicada que a questão falística, veio a descolástica e eu fui embora de riquixá.

Paris: guardei o ecstasy que não usei na India ,por respeito a mais pura religiosidade, para usar aqui, terra chic da luxúria e da gula. Mas infelizmente, pela décima vez, não estou me sentindo em casa. Paris realmente não é minha casa. Nunca me apaixonei em Paris. Será que todos os ruivos narigudos parisienses estão em seus apartamentos? Fazendo o que exatamente? Mas na virada de uma esquina , depois de duas horas de ecstasy batendo, eu te encontrei. E absolutamente não estava nada procurando, muito menos um homem que gosta, e apenas gosta, de outros homens. Nada de mais. Teria sido uma tremenda infelicidade momentânea, uma catástrofe, se eu não estivesse há uma semana sem transar, (coisa pouca, consigo agüentar histericamente, um mês sem transar), e se ele não estivesse reclamando que só estava conseguindo sexo comprado e, por último, se ele não tivesse dito que felizmente também estava ecstasiado. Tão lindo? Cheiro tão bom! Corpo tão perfeito. Látex. Dançamos muito. Na hora de ir embora, sempre aparece um argelino boludo querendo te carregar e ficar com teu argent. Ele disse: Ela está comigo! Elle est avec moi! Macho man! Mon couer! Mon amour! Me apaixonei. Pela segunda vez em minha vida, me apaixonei um pouquinho por um gay. O que fazer? Sugeri: Vamos pro teu hotel porque no meu, eu tô com um casal de amigos casados que vão acordar. Ele disse : mas o que vamos conseguir fazer? Eu disse: vamos apagar a luz, cada um pensa em alguém e deixa rolar. Funcionou perfeitamente. Santo breu! Ele me chamando de Michel e eu me sentindo a gostosa Michele. Às vezes o escuro te reserva surpresas que a rigidez desconhece.

Verdes campos gaúchos, da erva mate amarga, do vinho barato. Viamão em meu coração. Me aguarde, que estou voltando.