FELICIDADE

por Gabriel Britto

gabebritto@hotmail.com

Eles eram o casal perfeito. Casal 20. Viviam felizes, rindo, se divertindo. Os amigos não entendiam como conseguiam ser tão alegres, mas adoravam – óbvio, todo mundo gosta de ver amigos felizes. Foi assim durante sete longos anos, até que se separaram. Se antes os amigos não entendiam como eram tão felizes, agora não conseguiam entender o motivo da separação. Não houve briga, não houve discussão. De um dia pro outro eles se separaram. Tinham recém saído de uma festa, onde se divertiram muito até às cinco da madrugada, voltaram pra casa e no outro dia de manhã tava acabado.

Tudo começou na faculdade. Foi numa cadeira do terceiro ano de Administração que os dois estavam fazendo atrasada. Luana era linda e logo chamou a atenção de Charles. Ainda mais depois que deu uma risada na sala de aula. Luana tinha uma risada incrivelmente alta. Ensurdecedora. Estridente. Irritante. Mas também tinha rosto e corpo divinos. Se conheceram e começaram a namorar. A química entre os dois era perfeita. Gostavam das mesmas coisas, dos mesmos filmes, dos mesmos pratos, dos mesmos programas. Era impressionante.

Comédia era o gênero preferido no cinema. Desde comédias francesas até pastelão. Viram Débi & Lóide umas quinze vezes juntos. Riram, riram, riram até não poder mais. Luana quase foi expulsa do cinema em todas as vezes, por causa da risada. Jim Carrey, então, era imperdível pra eles. Ainda mais pra Charles, que era um excelente piadista. Era a sensação das festas. Contava piadas como ninguém, interpretava, fazia caretas. Nem um português imitava um português tão bem quanto Charles. E Luana ria. Ria, ria e ria. Mais alto que todos nas festas juntos. Aquela risada que doía nos ouvidos.

As pessoas ficavam constrangidas. Mas ela estava feliz, isso era o que importava. Além de ter essa risada ensurdecedora, Luana ainda era de riso fácil. Parecia uma adolescente. Ria de tudo e de todos. Novela, programas de auditório, shows de calouros, tudo fazia ela rir. E Charles ficava lá, do lado, quieto. A vassoura da vizinha de baixo já estava em frangalhos, de tanto que bateu no teto pedindo pra Luana parar com o barulho. Mas Luana achava cada vez mais graça. E ria, ria, ria.

Foi assim durante longos sete anos. Risadas, risadas e risadas. A felicidade vivia do lado deles. Nunca na história do mundo existiu um casal tão feliz. Mas aí eles se separaram e ninguém entendeu porquê. Pareciam tão felizes naquela noite. Foi a noite mais feliz da vida deles. Esse foi o problema. Luana não parou de rir a noite toda. Charles pediu divórcio. Não agüentava mais.