O QUE ACONTECE COM A VEJA DEBAIXO DOS PANOS E DOS LENÇÓIS?

Daniel Gallas
 
 

Quero falar rapidamente sobre a Revista Veja. Não sei se vocês notaram, não sei nem se alguém ainda lê ou comenta a Veja, mas ela está dando cada vez mais capa para assuntos bobos. Nas semanas em que houve vários tumultos - como o dos presídios em São Paulo, a morte do Mário Covas, a eleição no Senado, a conversa do ACM com os procuradores e a ISTOÉ - a Veja se manteve distante dessas confusões, ao menos em sua capa, destacando outros assuntos, do tipo “fobias dos brasileiros”, “a dieta dos carbohidratos contra a das proteínas” ou “a crise do brasileiro debaixo dos lençóis”.

Seria fácil, numa hora dessas, acusar a Veja de cagalhona (desculpem a palavra, não me veio nada melhor quando pensei nesse assunto, lendo a Veja no banheiro, naturalmente). “Pô, o país num momento crucial que definirá o quadro político de 2002, com o ACM perdendo o seu espaço, os aliados do Covas sem pai nem mãe, e a Veja fica falando essas bobagens?”

Tá certo que esses assuntos não saíram das páginas da revista, e nem foram cobertos de forma diferente do que a Veja fez nos últimos seis anos, mas estão recebendo cada vez menos destaque.

Já que não trabalho na Abril e não conheço pessoalmente os caras que fazem as revistas de lá, tenho dois raciocínios. Um que de certa forma aceita a nova posição da Veja, e o outro, já explicado, o da Veja-cagalhona.

Vamos à visão otimista: de repente os caras da revista se deram conta “Calma aí, política no Brasil é um assunto muito chato. Em vez de falarmos sobre as coisas que a população realmente deveria saber - cobrir os projetos de lei que passam pelo Congresso, a forma como eles chegam lá, os advogados que escrevem esses projetos, as empresas para as quais esses advogados trabalham, os pequenos trechos dos projetos de lei que passam no Congresso e ninguém se dá conta de que eles dão muitos poderes a empresas de telefonia, plano de saúde, empreiteira, etc. - ao em vez de falarmos sobre esses assuntos dentro da política, não. Geralmente deixamos a política prática de lado e acompanhamos o bate-boca no Senado, o que o ACM disse de quem, quem perdeu poder, quem deve se eleger na próxima eleição, e com quais alianças. Pois já que essa cobertura de política é muito chata e a outra é muito difícil de fazer sem pisar nos pés de nossos leitores, clientes e anunciantes, por que não desviamos a atenção da revista para assuntos que realmente são interessantes para o leitor?” Pois é, na minha cabeça os caras da Veja sempre raciocinam com frases grandes.

Sei lá, alguma coisa aconteceu com a Veja. Desde o caso do Luiz Estevão, a revista parou de dar destaque para a política na capa, tirando a morte do Mário Covas.

Bom, vou terminar esse texto logo e mandar para o Jorge Furtado publicar, esperando que talvez ele ainda não tenha fechado o Não e ainda caibam análises escatológicas de publicações semanais. E esperando algum retorno dos leitores, nem que seja para dizer “Pô cara, ninguém lê a Veja há seis anos.” Desculpem a pressa. Agora vou para baixo dos meus lençóis, porque, pelo que li na Veja desta semana, não tenho nenhuma crise. Fiz 44 pontos no teste que identifica o Quociente de Intimidade Sexual. Bacana!