Erros e acertos

Daniel Peccini

daniel@mechsys.com.br


Esta campanha política reflete uma situação comum na nossa sociedade, o medo de assumir os erros. Quem assiste aos programas políticos e aos debates na TV, pode perceber que os políticos simplesmente não erram. Eles são perfeitos. Nunca ouvi um político dizer "eu errei", e este, na minha opinião, é o maior erro que podem cometer.

Os governos de situação insistem em mostrar os seus acertos à população. Passam horas relatando que fizeram isso e aquilo, tentando nos passar a imagem de que são super-homens. Já a oposição faz justamente o contrário, distribuindo críticas e mais críticas numa raiva cega ridícula e que não contribui em nada para o eleitor.

Os políticos tem medo de dizer a verdade. Será que uma campanha não ficaria muito mais real se fosse feita uma análise geral do governo, apontando erros e acertos e explicando para a população os motivos dos erros e como serão combatidos? Será que é tão grave assim assumir um erro, e propor uma nova alternativa para que estes erros não ocorram mais?

A mídia elege o presidente, tanto na forma oficial nos horários políticos gratuitos, como na imprensa em geral. Muitas vezes um rombo de milhões de reais no orçamento de uma obra representa para a população um erro menos grave do que o político ter um filho fora do casamento. Um simples escorregão do candidato numa questão boba pode lhe fazer alvo dos adversários e todos os seus acertos em anos de vida pública são esquecidos. Exatamente por isso ninguém assume seus erros, pois a mídia crucifica rapidamente uma pessoa por menor que seja a atitude. Fico a imaginar o que seria de um candidato que fosse para a televisão e o rádio dizer que errou. Seria apedrejado pelos adversários, rotulando-o de incompetente e alertando a população de que todos aqueles erros vão se repetir caso seja eleito.

Assumir os próprios erros é uma atitude muito própria de cada pessoa. Desde criança é possível perceber se ela tem vocação para isto ou não. Observando o programa da rede globo 'Gente Inocente', onde as crianças demonstram suas habilidades artísticas é possível perceber dois tipos de personalidade: aquelas que tentam imitar os adultos e as que são elas mesmas. As primeiras tentam passar uma imagem que não lhes pertence, pois acreditam que os adultos são mais evoluídos (não erram) e agindo assim estarão fazendo a apresentação da maneira correta. Todos aplaudem numa cena ridícula. Alguns jurados acham isso bonito. Claro que isto soa de maneira extremamente artificial e é fácil perceber tal situação. Esta criança tem medo de mostrar que é criança e quando for adulto terá medo de mostrar que é adulto, tentando esconder seus erros, mas também de forma artificial. Já as crianças que são apenas crianças, com todo aquele ar de infantilidade natural e espontânea, assumem desde pequenas o que são e conseqüentemente ao tornarem-se adultas também o farão.

Muitas das causas destas atitudes passam por duas situações: a primeira é que muitas pessoas necessitam de um incontrolável sentimento de afirmação perante a sociedade. Não estar bem aos olhos dos demais indivíduos provoca mal estar e preocupação. O outro motivo é a necessidade de recompensa e sucesso pelos seus atos. Infelizmente esta não é a forma ideal de lidar com produção, criação e gerenciamento. É preciso pensar nos problemas de maneira a encontrar as melhores idéias e soluções e não o que irá gerar a maior recompensa.