A volta da moral Hans

Carlos Gerbase

gerbase@terra.com.br

No Não 53, o primeiro da internet, escrevi “Chame o juiz de ladrão e depois diga que não - ou os alicerces da moral hans” (www.nao-til.com.br/nao-53/mor-hans.htm). Nesse histórico texto, contei a incrível história da absolvição do atleta Christian pelo Tribunal de Justiça Desportiva da CBF, em 1997. Os auditores tinham que escolher entre duas versões dos fatos: a do juiz da partida, que viu Christian dando uma porrada num adversário por trás (e ainda ouviu alguns palavrões e ameaças depois de o expulsar); e a do atleta Anderson, companheiro de Christian no colorado, que não viu nada, não ouviu nada e disse que Christian era boa gente. O Tribunal, incrivelmente, preferiu a versão de Anderson, estabelecendo, dali para a frente, o reinado da MORAL HANS, aquela que está sempre a favor de Christian-Anderson, ou seja, da versão fajuta. No final da matéria, fiz um chamamento à ética e à decência: Vamos construir um mundo melhor para nossos filhos, netos e bisnetos. Vamos, a partir desta histórica edição do "NÃO", dizer "NÃO" à nefasta MORAL HANS. Não me ouviram. E a moral Hans está de volta com força total.

No julgamento de um atleta do Grêmio pelo mesmo Tribunal de Justiça Desportiva da CBF, em novembro de 2002, eis que a história se repete como farsa. O nome do atleta denunciado? Anderson. Sim, caros leitores, Anderson. Não era o mesmo. Agora era um Anderson negro e gremista. Isso não se chama coincidência. Isso se chama destino. O lateral-direito do Grêmio foi expulso e o juiz escreveu lá na súmula que ele tinha dado uma porrada em alguém. Até aí, nada demais. O Grêmio poderia ter levado algum atleta para dizer que não foi nada disso, que o Anderson é boa gente, etc., mas preferiu fazer uma defesa simples, baseada na sustentação oral do seu advogado. Só que o Grêmio esqueceu uma coisa: entre os cinco auditores estava o sr. Paulo Rogério Amoretty, que vem a ser ex-presidente do Internacional. ATENÇÃO, LEITOR! É isso mesmo, um ex-presidente do colorado julgando um atleta gremista e decidindo se este participaria das quartas-de-final do campeonato brasileiro. E tem mais: Amoretty poderia se declarar impedido de participar, MAS NÃO O FEZ. Ele quis julgar. Ele quis que a MORAL HANS vencesse, como venceu. Amoretty, contrariando o auditor que o precedeu (que deu a pena mínima para Anderson - um jogo), deu DOIS JOGOS para o atleta do Grêmio, TIRANDO-O DO JOGO!

É isso aí. E ainda temos que ouvir os próprios dirigentes do Grêmio dizer que o Amoretty deve ter julgado com a sua consciência, e não com o seu clubismo. Isso não se chama ingenuidade. Isso se chama falta de senso histórico. Isso se chama MORAL HANS. Trata-se de uma conspiração engendrada pelos desesperados colorados, que vêem, ano após ano, seu time sofrer e ser humilhado. Os grandes clubes gaúchos, como Grêmio e Juventude, precisam se unir cada vez mais para impedir que clubes inferiores, que deveriam estar há tempos na segunda divisão, utilizem recursos extra-jogo para tentar equilibrar uma balança que quebrou faz tempo, deixando os colorados com a bunda no chão e um ressentimento tão grande que os torna capaz de coisas feias como essas que descrevi. Pelo fim da moral Hans. Que vença o melhor. Que vença o Grêmio (com o Juventude de vice, claro).