DESFILE DE 20 DE SETEMBRO É COISA DE OTÁRIO?
por Miguel da Costa Franco
27/09/2003 - 11:43
 

O que fariam nossos mais ferrenhos tradicionalistas, nossos guapos defensores do Rio Grande, nossos eternos revolucionários gaudérios de plantão, dispostos a defender nossas fronteiras a ferro e fogo, se soubessem que, na manhã de 19 de setembro, enquanto aprumavam o pingo para mais um desfile farroupilha no rumo da capital, as raposas lhe atacavam o galinheiro e uns dez mequetrefes lhe carneavam o touro recém-comprado na exposição? Ou abusavam das prendas que lhes haviam atendido de forma educada e gentil? Ou lhes tomavam grande parte da produção a título de contribuição para o desenvolvimento da nação?

Não, não, eu lhes diria, não é motivo para reencetar uma guerra longa e sangrenta.

Hoje temos aprimoradas as instituições democráticas, hoje temos órgãos de defesa do cidadão institucionalmente organizados e ativos. É o que dizem.

Valha-nos o Tribunal de Contas do Estado! É caso de gestão temerária!

Socorro, Procuradoria de Justiça! É caso de polícia!

Por favor, Contadoria e Auditoria Geral do Estado! O caso não resiste a uma análise sumária.

Acorda, Assembléia Legislativa! Exerce o teu poder fiscalizador!

Atenção, Tribunal Regional Eleitoral! Não fecha os teus olhos diante de evidências tão gritantes! Estão devolvendo com juros absolutamente incríveis o financiamento da campanha eleitoral.

Congresso Nacional, acaba logo com a festa insana e corrupta – o “carnaval de setembro”, como andam chamando! - dos incentivos fiscais já na reforma tributária em andamento!

Desperta, imprensa livre, se é que ainda resta alguém na sala!

Acordem todos os órgãos de defesa do cidadão, que a solidez do estado democrático interessa a todos.

Antecipa um pouco, Senhor Deus, em tuas múltiplas configurações (viva a liberdade religiosa!) o julgamento que costumas fazer tão tarde. Faz arder mais cedo os que se locupletam do estado num país de miseráveis!

Socorram-nos as livres organizações cidadãs! Não existe cidadania se todos os mencionados acima - exceto Deus que já mostrou sua força para quem nele acredita - não forem livres e fortes!

Não se deixe enganar, professor, policial, brigadiano, técnico-científico e funcionário do estado em geral, que pleiteia remuneração mais justa e que não dispõe de recursos no dia-a-dia para fazer essa máquina pesada andar em socorro da população pobre, doente, favelada, faminta e desempregada!

Reaja, contribuinte! Estão administrando o dinheiro público com absoluta desfaçatez e total falta de respeito.

Mostremos valor, constância...

Dirijam todos o seu olhar avaliador para o 16º andar do Centro Administrativo do Estado, para a sala de reuniões junto ao gabinete do Secretário Luiz Roberto Ponte, da Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais. Para a reunião do Conselho Diretor do FUNDOPEM, que aconteceu na manhã de 19 de setembro!

Deve haver uma ata!

As resoluções ali tomadas foram publicadas no Diário Oficial do Estado! E o Governador as referendou por decreto no dia 19 mesmo! Para algumas empresas, o Governador Rigotto até já anunciara o apoio do estado antes da própria reunião do Conselho do FUNDOPEM.

É cabível num estado quebrado aprovar-se em rito sumaríssimo, a grande maioria sem prévia e conclusiva análise técnica, benefícios tão elevados (mais de um bilhão de reais, é certo, mais de dois bilhões, talvez!) para umas trinta e poucas empresas?

A grande maioria sem prévia análise técnica, repito. Sem prévia análise técnica, grito. Outros com parecer técnico contrário!

E tem mais: algumas das beneficiadas ou seus sócios estão inadimplentes com suas obrigações para com o próprio estado, seja na Fazenda, no Banco do Estado do Rio Grande do Sul ou com projetos anteriores apoiados pelo FUNDOPEM.

Há empresa que teve incentivo anterior cessado ao fim de 2002 por descumprimento dos compromissos assumidos e comprovada incapacidade financeira de dar continuidade ao projeto apoiado. Milagre! Passados uns poucos meses, já está em condições de investir muitos milhões de novo e receber o apoio do estado!

Alguns empregos prometidos vão custar mais de um milhão de reais a unidade... Pode uma coisa dessas? Pode, ora. Na Gerdau, os empregos serão até reduzidos.

Há projeto apoiado que só serve para dar valor de venda para a empresa beneficiada pela concessão, que não tem capacidade de investir um centavo sequer.

É possível uma coisa dessas com o dinheiro público? É moral? É ético? É legal?

Respondam-me! É o que lhes peço por ora! Tem alguém aí?

De outra forma, esses desfiles de 20 de setembro,... sei não!,... ficam me parecendo coisa de otário.

Ah! Na sexta-feira, 26/09, parece que tem mais...
 

Miguel da Costa Franco
mig@portoweb.com.br
 
 


Quer saber mais?