PAZ! MEU VOTO É SIM
comunicado do Lama Padma Samten

PAZ!  (Meu voto é sim, opção 2.  Sim à proibição da comercialização e legalização das armas.)

Queridos amigos

Em breve estaremos depositando nosso voto no referendo sobre a comercialização das armas e várias pessoas perguntam sobre a minha posição.

Todos queremos a felicidade e queremos nos afastar do sofrimento. Isto é construído através de uma cultura de paz.

Não vejo a possibilidade de construir uma cultura de paz se não pela prática dos valores mais elevados. Imagino que o Buda sempre veria as armas como resultado da ignorância e do engano. O mesmo com Cristo e com Gandhi.

Ainda que haja diferentes idéias diante do referendo, todos nos igualamos quanto à motivação. Cada pessoa diante da urna espera que seu voto traga mais segurança. Uns pensam que isto pode ser obtido por mais armas, outros pensam que devemos banir totalmente as armas. Convergimos no fato de que todos queremos felicidade e segurança.

Portar armas significa que temos a disposição de usa-las. A disposição de atingir alguém produz imediatamente dúvidas, medos e ansiedades mesmo que nenhum evento ocorra. Se eventualmente tivermos situações práticas, a presença de uma arma na nossa casa, ou carregada junto ao corpo ou nas nossas mãos é fator de grande perturbação e dúvida.

Muitos são os relatos de resultados infelizes da presença de armas em meio a situações de conflito e disputas. Mesmo durante assaltos em que as vítimas estão armadas os relatos são muito negativos. Temos escassos relatos de situações onde a presença de armas com as vítimas foi um fator positivo. As armas das vitimas, em verdade, ao serem roubadas se transformam em novos elementos de agressão e insegurança.

As justificativas para a defesa agressiva e para a violência precisam de argumentos rebuscados. Para as pessoas com uma conexão religiosa é mais simples. Não incluímos entre as nossas opções ferir, atingir, machucar, violentar. Também não temos habilidades nem motivação e nem treinamento para usar as armas como meios de conter a violência e a insegurança.  As armas seriam inúteis para nós.

Nenhum tribunal brasileiro daria uma sentença que permitisse alguém introduzir no corpo do outro uma bala. Não importa qual a circunstância. Quando as pessoas portam armas, elas assumem este poder e este direito de ação sobre os outros. Se os tribunais não podem, porque as pessoas, com todas suas confusões emocionais e motivações equivocadas poderiam?

Todos nascemos, crescemos, vivemos, envelhecemos e morremos. Este é o mundo real. Diante destes ciclos nossas certezas, raivas, medos, defesas e agressões perdem a importância. É um momento muito interessante. Há uma maturidade social muito elevada na própria oportunidade de um referendo sobre este tema. É motivo de alegria que nossa lucidez coletiva proporcionou esta possibilidade do banimento da legalidade das armas. Eis um momento perfeito para pensar sobre a finitude e fragilidade da vida de cada um de nós e também sobre o infinito e ilimitado mistério que anima a vida mais simples.

Aspiro que a lucidez dos Budas e dos grandes mestres esteja sempre em nossos corações e mentes.  Que todos possamos ter nascimento nas terras puras dos Budas e que todos possamos também dar nascimento a este mundo como uma terra pura de felicidade e lucidez.

Meu voto é sim, opção 2.  Sim à proibição da comercialização e legalização das armas.