POR QUE SIM
Luis Fernando Verissimo
Zero Hora, 17/10/2005
O debate sobre a proibição ou não de armas é uma guerra de hipóteses. Discutem-se teses que pouco têm a ver com a realidade pessoal de cada um, já que a grande maioria dos que são a favor ou contra nunca pegou ou pegará numa arma. O embate é sobre o direito dos outros, entre pressupostos e previsões - portanto abstrações - diferentes.
A turma do "sim" defende a tese lógica de que quanto menos armas à disposição, menos armas serão usadas, e adota a hipótese de que o acesso dos bandidos às armas também será limitado e o combate ao crime facilitado. A turma do "não" diz que os cidadãos ficarão indefesos contra bandidos cujo acesso a armas ilegais não será afetado pela proibição, avança a tese da interferência indevida do Estado nas nossas vidas e acena com a hipótese do caos.
Escolha a sua racionalização.
Eu escolhi a lógica do "Sim" porque os argumentos do "Não", sei não. Dizer que o desarmamento da população a deixaria vulnerável ao crime equivale a dizer que, até agora, a população armada fez um bom trabalho de se defender, o que não é o que mostram as estatísticas. As estatísticas e o bom senso (e a polícia) mandam não reagir ao criminoso armado. Uma vitória do "Não" no referendo teria que - pela lógica - ser seguida de medidas que encorajassem a compra de armas por particulares, eliminassem as restrições legais ao seu uso, e estimulassem o vigilantismo. Um real, e não mais apenas teórico, engajamento da população numa guerra a tiros com os bandidos. Ou seja, aí sim o caos.
Prefiro a hipótese do desarmamento geral, que dá mais recursos à autoridade para pegar o criminoso antes do crime, à banditização de todo o mundo.
Quanto à limitação, pelo Estado, do direito do cidadão, ela é justificada em vários casos, dos sinais de trânsito que o impedem de se matar em cruzamentos à proibição de fumar em lugar público que o impede de matar seu vizinho. No caso da proibição das armas, o Estado também interfere para proteger o cidadão de si mesmo.