LULA E O TITANIC – O NAUFRÁGIO
Tatiana Mora Kuplich - 18/08/2005 - 14:34
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Em 1999 escrevi para a Não comentando um discurso empolgante de Lula em Londres (http://www.nao-til.com.br/nao-61/lulaeo.htm), onde ele olhava nos olhos de um público devoto, encantado e cheio de esperança. Nestes 6 anos, vi de tudo: do ápice ao enterro da devoção, encantamento e esperança. Tento escrever há muito tempo e verbalizar sentimentos confusos, que vão além da decepção e chegam, tristemente, ao descaso. Não parecem existir argumentos e pior, palavras, para compreender e defender o que se transformou o nosso sonho. Minhas primeiras tentativas, na maior parte das vezes solitárias, tratavam de culpar o tempo, as alianças e a inexorável perseguição do centro e da direita, imaginando infantilmente que algum movimento para moralizar e esclarecer tudo estaria se desenhando nos subterrâneos do Brasil. O pesadelo, entretanto, não parece estar nem perto do fim. Quando tento completar o quebra-cabeça, algumas peças parecem assustadoramente similares e tenho medo de aproximá-las. E se que já estava tudo planejado, e somos apenas joguetes, personagens que existem pra alimentar a Matriz, como no cinema? E a frase “O melhor do Brasil é o brasileiro” já faria parte de alguma profética alegoria à resignação diante de uma república sem-vergonha? Quem pode me provar que já não nos tentavam "insuflar", como no regime militar, atitudes conformistas frente ao descarnamento de nossas esperanças?

A cena de nosso presidente jogando futebol no sábado à tarde, depois de se mostrar travestido em algo quase desumano, num discurso patético e revelador (justamente por não revelar nada), na sexta-feira precedente, foi a gota d’água. Estratégia de sobrevivência, idealizei um botão liga/desliga para meus ouvidos, que funciona automaticamente ativado por palavras como Brasília, CPI, milhões...

Mesmo que mudemos nomes e integrantes, a política do Brasil vai sempre fazer parte de minhas mais indignadas e sofridas recordações. E espero que Lula tenha a dignidade de afundar com seu navio. Sobrarão lugares nos botes salva-vidas...