A máscara
por Auber Lopes de Almeida


Num dia do início de abril, à espera de serem atendidas no laboratório da Unimed, onde fui fazer um hemograma, havia cerca de dez pessoas, algumas usando máscaras médicas brancas, simplezinhas. Quando me viram com a N95, que é azul escura e tem um respirador preto no lado direito, uma guria sem máscara levantou-se e saiu.

Antes de me dirigir ao balcão, uma recepcionista, também de máscara médica, me perguntou a razão pra estar usando aquele tipo que, até então, quase ninguém conhecia. Disse, com a voz embargada, que estava muito doente, razão pela qual faria o exame. E sorri. Ela deu dois passos pra trás sem ver meu sorriso por causa da máscara.

Depois de encaminhar a requisição, sentei-me longe dos demais, mantendo um distanciamento seguro. Embora todos, ali, soubessem que um vírus mortal nos espreitava, parecia que, naquele momento, eu era Freddy Krueger e eles, as vítimas do filme A Hora do Pesadelo. Ou seja, a morte era representada por mim e minha máscara assustadora.

Quando vi o que se passava, decidi me divertir um pouco, coisa que, estava prevendo, não iria fazer pelos próximos meses. Embora tenha parado de fumar há um bom tempo, não desaprendi a tossir de modo convincente. E assim o fiz. Uns três deram um pulo na cadeira. O legal de estar com máscara é que não dava pra ver as reações do meu rosto.

Tossi duas vezes em sequência e mais um se retirou. Azar deles serem cagões, pensei. Minha ficha era a última. Iriam perder a vez de serem atendidos. A recepcionista, percebendo a situação, me colocou como preferencial. Passei à frente de todos e fui embora três minutos depois, sem que alguém reclamasse. Acho até que ficaram aliviados...





Auber Lopes de Almeida é jornalista e escritor de Cachoeira do Sul, radicado em Porto Alegre há 35 anos e sócio proprietario da  Farol 3 editores.