Sempre acho que escrevendo frases, sem provar de tudo na vida, estou escrevendo frases mentirosas porque algumas experiências te fazem negar tudo o que tu acreditava antes. Por exemplo , na minha época de católica eu acreditava que quem não levava a extrema-unção na hora da morte, não ia pro céu. Então eu ficava pensando de noite (bem pior que pensar em sexo mal-resolvido), no que acontecia aos mortos que morressem em combate, sem padre por perto. Também em alguma mulher que morresse sozinha no campo, sem nenhum capelão. Não era justo. Só a reza na hora do último desespero já seria suficiente para a absolvição? Aí, para dormir eu pensava, os padres rezam por todos. De criança sempre pensava em ir para o céu, mas dar uma passadinha antes no inferno para conhecer. Gostaria de ver a dor dos outros , mas sem me queimar. No delírio, se apaixonar pelo torturador. Já não saber mais nada. Mas voltando ao nosso tema de hoje. Valeria a pena estar com alguém sem sentir um super-tesão? Acho que sim. O problema é que alguma das partes envolvidas quase sempre se apaixona numa transa pela parte que não ficou muito envolvida. E aí fica aquela grudação sem sentido, pra desdobrar. Só sei que eu queria um carinha aqui agora. Quente, lisinho, cheiroso. Ou uma gatinha que acabasse com minha eterna heterossexualidade. Ou um grupo composto de um casal e um solteiro. Todos felizes e loucos, que contassem estórias interessantes e cômicas e depois gostassem de trepar. Que me fizessem morrer de rir. Quase sempre sou eu que tem que fazer os outros rirem. Isto quando eu quero, pois ultimamente estou assumindo um jeito antipático com algumas pessoas que não tenho paciência. Mas eu não gostaria de ser chata com quem antipatizo. Gostaria de estar em São Paulo? Talvez. São Paulo tem um ar de solidão que eu adoro, andando sozinha com desconhecidos pela rua. Tem um lado da solidão que não tem deixa enlouquecer. O lado indivíduo, que te dá a chance de fazer pequenos balanços particulares. Atualmente, muito pouca coisa me prende realmente a atenção. Se a pessoa não for carismática sou capaz de ouvi-la discursando duas horas sem saber do que está falando. É a arte do flutuar, fluir, sem pestanejar. Os japoneses já deveriam ter criado, a nível doméstico, robôs do sexo. Eu compraria um. Poderia ficar mais em casa, ler mais. Mas os japoneses são muito moralistas para desenvolver um robô do sexo. Talvez os escandinavos.
São 3 horas da manhã e os sons estão cada vez enfraquecendo mais. Me dá um pouco de medo saber que na casa ao lado tem montes de Hare-Krishnas machos, com sexo muitíssimo atrasado, e o que nos separa é esta parede. Será que não deixei a porta dos fundos aberta? Certamente. Mas tenho o meu cachorro babaca, sonolento, comedor de macarrão. Vou me chavear no quarto. Aqui só entram anjos. Roubem a casa toda e deixem meu corpo virgem intacto. Paranóia. Tá na hora de dormir. Não espere ...