LONGA VIDA
AO BAR OCIDENTE

No último dia 3 de dezembro, o bar Ocidente completou 17 anos. Poucos bares e casas noturnas de Porto Alegre atingiram tão provecta idade. O mais comum é o rápido estrelato, cheio de sorrisos e elogios pungentes, seguido do mergulho no esquecimento, cheio de choro e ranger de dentes. Mas o Ocidente não é nada disso. 

Desde que surgiu, fez questão de ser muito mais do que um bar. Nestes 17 anos, O Ocidente viu nascer lendárias bandas de rock, abrigou espetáculos de dança e teatro, promoveu desfiles, foi ponto de encontro de políticos e de malucos, foi invadido pela polícia, virou cinema alternativo, juntou e separou centenas de casais porto-alegrenses, alimentou centenas de esfomeados, estendeu o copo a milhões de embriagados, foi hippie, foi punk, foi gay, foi macho, foi deslumbrado, foi conscientizado, foi intelectual, foi débil mental, foi clubber, foi natureba, foi chumbrega, foi moderno, foi um inferno, foi tudo o que algumas semanas ou meses depois seria importante na cultura da cidade. 

O Ocidente sempre esteve antes, bem antes, quase sempre sem alarde, quase sempre disfarçando a riqueza do que estava lá dentro com sua aparência desleixada, suas paredes mal pintadas ou descascadas. O Ocidente, ali em cima da Rozeka, na esquina da João Teles com a Oswaldo, não é mais propriedade do Fiapo e do Fonso (como já foi do Carlinhos). O Ocidente é de Porto Alegre e dos seus freqüentadores, tanto diurnos quanto noturnos.

Por tudo isso, o Ocidente foi escolhido como locação para a primeira das Garotas Que Dizem Não. Em todos os enquadramentos, a modelo estaria cercada da história artística, intelectual e etílica desta cidade. Aquela escada, aquele banheiro, aquele balcão, aquela parede, aquela janela, aquela bilheteria já estão tombados como patrimônio cultural da humanidade bonfiniana. Longa vida ao Ocidente. E que o belo continue sendo gerado nos lugares mais inesperados.