JOSTA BARULHENTA

"Ô, Léo, vai ter barulho nesta josta hoje de noite?", gritou do meio da rua o negrão com a jaquetinha de segurança do Líder, enquanto eu estacionava o carro cheio de bugigangas para a sessão de fotos. O Léo sorriu e disse que não, que o barulho seria no dia seguinte, uma quinta-feira, com um punhado de bandas de hard-core proclamando o fim do mundo, o fim dos tempos e, provavelmente, o fim da vida útil de alguns alto-falantes. O negrão riu, fez sinal de positivo e continuou sua faina, enquanto o Léo me ajudava a carregar as coisas para cima (para quem não sabe, o Garagem fica num segundo andar, e não há rampa, apenas uma estreita escada externa).

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O negrão da segurança do bar Líder provavelmente nunca subiu aquelas escadas, mas o seu grito é, sem dúvida, uma excelente definição para o bar/danceteria/casa de espetáculos que atende pelo nome de Garagem Hermética: uma josta que faz barulho

É uma josta porque supera, com larga margem, o lixo clássico sessentista do Ocidente, atingindo uma estética chinelo velho futurista, em que os grafites, as obras de arte e as interferências na pintura (tudo em constante renovação) têm papel fundamental. E o mais importante - sem aquele insuportável ar de "sou moderno", graças à quase penumbra que domina a maioria dos ambientes. É uma josta e também é uma mistureba infernal: paredes punks (amarelas, sujas, com pegadas de coturnos), paredes dance (o palco é coberto com papel laminado), paredes hippies (tons quentes, contrastes absurdos).

E é um lugar de barulho porque a música que toca lá (ao vivo ou mecânica) é mesmo barulhenta. Provavelmente o negrão segurança do Líder prefere um bom pagode, mas os freqüentadores do Garagem vão lá porque teriam direito a destruir o local se expostos a esta popular manifestação de legítima brasilidade. O que não quer dizer que a estética sonora não seja mutante, dependendo do show marcado e da proposta da festa: novidades "alternativas" (êta, rótulo ridículo), velharias alternativas, hard-core, hip-hop, dance anos 70, dance anos 90, MPB lisérgica (êta, rótulo novinho), punk-rock, pop inglês (esse não muito), rock gaúcho, clássicos do rock, etc. Enfim, vale quase tudo, desde que seja agradavelmente barulhento.

O Garagem Hermética, ali na Barros Cassal, quase esquina Independência, pertence ao Léo e ao Ricardo. Abre às segundas, quartas (às vezes), quintas, sextas e sábados, a partir das 23h, mas a coisa esquenta mesmo depois das duas da manhã. A Joice, como toda boa Garota Que Diz Não, é freqüentadora assídua, o que não significa que você vai encontrá-la no sofá da foto aí de cima, assim à vontade. Tem coisas (TUUUUMMMM) que só o NÃO faz por você.