Rosa ficava no mundo da lua, devaneando, se Carlos respondia com gentileza a uma indireta sua.
Carlos era capaz de rastejar no chão, pela esperança de Gina dedicar um segundo de sua vida e um pouquinho de seu afeto a ele.
Gina não dizia "não" a Carlos. Sussurrava "talvez", "depois" ou gritava "nunca!".
Rosa começa a habitar cada vez mais o mundo da lua. Lá, Rosa é feliz. Carlos está sempre presente, os dois se amam, têm filhos. Carlos não sai de casa por nada deste mundo, vive grudado a Rosa, é um menino, precisa de proteção forte, ela o protegerá, em troca de ouvi-lo dizer com um sorriso: "Obrigado, Rosa."
Gina trepa sem parar. Faz de tudo por uma boa foda. Cheira, bebe, fuma, mas não fica sem uma boa foda. É uma devoradora de homens. Mata os amantes no cansaço. Um dia, eles fogem. Não agüentam fuder dia e noite. Ela procura mulheres. Procura animais. Vibradores. Cabides. Garrafas.
Carlos encontra uma Gina incomunicável. Ela já não brinca de sadomasoquismo inconsciente com ele. Ele a leva para casa. Quer cuidar dela. Mostrar como pode ser bom para Gina. Ela não vai deixá-lo, depois disso.
Gina já não fala. Não come. Vomita. Trincada. Gina é um porre. Gina cansa. Gina dá no saco e Carlos quer dar um tempo nisso tudo. Ele até consegue, um dia, comer Gina. Mas é como se fosse um sanduíche de borracha. Não tem gosto. E não era isso que ele queria quando corria atrás dela feito um cachorrinho, auauau, auauau.
Se arrependimento matasse. Fudendo com um vegetal. Ela está morrendo, Carlos, e você aí esporreando numa buça sem função. Que remorso, seu! Não tem vergonha? Mas faça alguma coisa, ela está mal! Chame a polícia. A farmácia. A família. Não. A Rosa. A Rosa é boa. É calma. A Rosa ajuda.
A Rosa aparece. Carlos aflito. A Gina mal, apagadona. A Rosa, coitada, no mundo da lua. "O que é isso?", pensa a Rosa, vendo a Gina. "Ah, é a nossa filhinha, minha e do Carlos. Tá dodói." E toma Gina em seus braços. Canta uma música de ninar, uma coisa que sua mãe lhe cantou quando era menina. Carlos ronda por ali, inquieto. A Gina para de gemer. Rosa ronrona. Carlos preocupado com Gina: "Apagou geral?" Um gesto tranqüilizador de Rosa. Gina dorme, a expressão relaxada, em paz, bem.
Rosa e Carlos deixam Gina a sós. Um longo silêncio.
Carlos se alivia. Rosa devaneia. Carlos é sincero: "Obrigado, Rosa."
Rosa o toma, um abraço. É um menino.