Revezam-se no trabalho, é verdade: todos querem ser diretores, e nisso se ajudam, sendo assistentes de direção, fotógrafos, produtores executivos, atores principais, etc., uns pros outros. Os superoitistas de Porto Alegre possuem um grande e único ego grupal. Vivem trocando elogios, talvez pra dar a entender a eles mesmos que estão fazendo alguma coisa importante. Uma vez por semana são chamados a dar entrevistas na TVE. Alunas da PUC elaboram monografias a respeito de seu trabalho. Mas o trabalho em si não tem importância nenhuma.
O que pode ser comprovado pela falta de suporte ideológico. Eu, por exemplo, só esta semana recebi dois manifestos de superoitistas: um de João Pessoa e outro de Buenos Aires. Alguém já ouviu falar em algum manifesto de superoitistas portoalegrenses? Adivinho a resposta: os filmes são seus próprios manifestos. Neste caso, maior é a indefinição: vendo-lhes os filmes, quem é capaz de responder a favor de quê são os superoitistas de Porto Alegre? contra o quê? em quem eles votaram em 15 de novembro? aceitam empréstimos do FMI? enviarão representantes para a guerrilha em El Salvador? quem indicariam para a presidência da Embrafilme? batalham pela legalização da maconha? o que significa, para eles, fazer um filme?
O pessoal que faz super-8 em Porto Alegre só não é reacionário porque lhe falta cultura para tanto. As poucas opiniões que (certamente por descuido) deixam escapar são a respeito do chamado "grande cinema", e aí demonstram ainda mais a sua falta de preparo. Consideram o Cinema Novo um equívoco, a Nouvelle Vague um embuste e a pornochanchada uma esperança. Os modelos são Spielberg e os Monty Python, sem questionamentos.
Some-se a tal manancial de idéias uma câmara tremida, com foco duvidoso, um total desconhecimento do que seja a linguagem cinematográfica, péssimas interpretações e uma dublagem mal feita. Reúna-se meia dúzia de pessoas na platéia e adicione-se uma projeção descuidada, uma imagem sem brilho e sem contraste e um som absolutamente inaudível. Tudo isso a preços mais caros que os do cinema convencional e com muito menos conforto do que ficar em casa assistindo TV. E se terá uma idéia do que significa isso que já foi chamado de "movimento superoitista portoalegrense".
Giba Assis Brasil