ELO PERDIDO
Por fora, parece a casa da mãe. Um prédio de dois andares, cinza, com um jardinzinho na frente, porta estreita, janela com veneziana. Por dentro, no início da noite, parece a casa da vó. Móveis estofados de plástico, luminárias da década de 60, uma TV do tempo de Chateaubriand, quadros desbotados na parede. Mas, lá pela meia-noite, ficam apenas os espíritos das mães e das vós, porque o lugar já está cheio de garotas e garotos interessados em boa música, tequila e conversa fiada, de preferência nos cantos mais escuros.
O Elo Perdido (rua Garibaldi, entre a Vasco e a Oswaldo) foi aberto no início dos anos 90 pelo Renato e pela Carla, hoje dedicados ao comércio de antigüidades. Atividade que, por sinal, é a explicação do clima de brechó. Quando os antigos donos venderam o Elo para a Cecília e o Toninho, em 95, a proposta de decoração e o ambiente retrô foram mantidos. Em time que tá ganhando não se mexe, mas sempre dá pra contratar um centroavante mais poderoso. Por isso, o Elo ganhou um segundo andar dançante, no final de 97. É uma pista pequena (e por isso aconchegante: lembra as festas que a gente fazia em casa, arredando o sofá), que tem como suprema qualidade o fato de ser bem isolada acusticamente, garantindo boa paz com os vizinhos (o que, nos dias de hoje, é fundamental).
À clientela original, formada por muitos jornalistas, publicitários e estudantes universitários em fim de curso, juntou-se uma turma um pouco mais jovem, mais barulhenta e mais dançante. Mas a convivência entre as gerações é pacífica. A gurizada geralmente fica lá em cima. O atendimento, de primeira, é feito por garotas bonitas e educadas. Não é preciso brigar para pedir um Jack Daniel's, a cerveja é gelada e a tequila vem com o limão cortado em pedacinhos pequenos. Enfim, a civilidade de outros tempos.
O bar abre de quartas a sábados (e dois domingos por mês). O Elo Perdido não promove shows, pois não há espaço suficiente para um palco, mas músicos e artistas em geral gostam de se encostar no balcão e jogar conversa fora. Nessas frias noites porto-alegrenses, o Elo é o melhor refúgio para quem tem saudades dos cuidados da mamãe e da vovó ("Sai da corrente de ar, meu filho. E bota o pulôver!"). E, de quebra, ainda dá pra encontra alguém que te aqueça nesse inverno.