Meus filhos são duas bolinhas quentinhas amontoadas. Um dos meus momentos perfeitos é chegar em casa, encontrar os dois no sofá vendo TV e mergulhar no meio deles. Quando eu faço isso, sempre pergunto:
- Quantos bebês eu tenho?
E eles sempre respondem:
- Dois!
Um dia, ele respondeu:
-Três!
E eu segui no embalo:
- São três mesmo, vocês não lembram do irmãozinho menor de vocês?
- Que irmãozinho? - ela perguntou.
Ele embarcou na minha viagem e disse:
- O nosso irmão menor, aquele que que ficou com o pai quando a mãe se separou, não lembra?
- Não, como era o nome dele? - ela disse, desconfiada. E eu falei, com toda a convicção:
- José Carlos. Ele nasceu um ano depois de ti.
- Como ele era? - ela quis saber, meio acreditando.- Eu não lembro dele...
Ele fez uma cara de quem está lembrando com algum esforço e seguiu falando:
- Era castanho, assim como nós, de olho e cabelo. Tinha covinhas e ainda não sabia falar. A gente chamava ele de Zé, ele tropeçava nas coisas e ria de tudo.
Ela perguntou, aflita:
- E por que tu não quis ficar com ele, mãe, o nosso irmão? Eu nunca mais vi ele, pobrezinho...
- Não dava pra ficar com todos, e, na divisão dos filhos, ele ficou com o pai. Eu ainda saí ganhando, fiquei com dois e ele só com um... - eu falei meio rindo, mas vi que a brincadeira tinha ficado estranha, e até ele me olhava meio magoado. Resolvi interromper o devaneio:
- Gente, nós só estamos brincando, vocês sabem disso, não é? Não existe nenhum José Carlos, foi só uma piração da cabeça da gente. Nossa, vocês são mais malucos do que eu, às vezes.
Eles concordaram, riram e disseram que sim, claro, eles sabiam que a gente estava brincando, que não existia nenhum outro irmãozinho, imagina, mãe...
Antes de dormir ela se abraçou
no meu pescoço e chorou, com saudades do Zé.