Eu avanço no último degrau e paro em frente à porta.
Nenhum sinal de vida, ainda.
Talvez eu deva voltar depois.
Em outra vida, depois que arrumarem o prédio.
Pq eu sou assim mesmo. Se vou a algum lugar, espero que me recebam com abraços e confeti, senão eu volto pra casa como se nada tivesse acontecido.
Mas eu estava ali, e uma vida não muda assim se vc olhar ela de fora.
Eu bato na porta-bonk, bonk, bonk... nada. Empurro a porta.
Vejo um menino estirado no chão.
Sou eu, minha psicóloga irrompe na sala dizendo.
É meu animus.
Eu vivo dando tiros na cabeça do meu animus.
Eu cutuco ele e nada. Eu como sou macho, macho mesmo, não sou de me amedontrar com essas coisas de sangue e miolos no chão, sigo pra dentro da casa. No meio, tem um sala que eu acho meio xtranha, é ali que eu vou encontrar minha vida, posso sentir.
Forço a 1a porta da sala, nem jeito de ela abrir.
Encontro uma outra entrada, pelo lado oposto ao que eu estava tentando. Entro. Me acomodo numa enorme poltrona e fico assistindo a uma espécie de show sado masokista bizarro até pegar no sono.
Sonho com o banheiro da casa.
Sonho com todos os cômodos que eskecih de conhecer antes de me acomodar nakele.
Quando me acordo, a casa está iluminada, a sala está limpa, o menino não está na entrada, com os miolos espalhados no chão.
Sol.
Odeio quando o sol entra e acaba com a festa.
De repente sinto náuseas, corro até o banheiro e derrubo tudo na privada.
Meio inkisitório este vômito.
Me fez bem, mesmo assim.
De repente ouvi a porta abrir.
Era minha mãe.
Minha psicóloga diz que eu devia tentar entender pq minha mãe sempre chega pra me salvar.
Ora, mas eu entendo!
É pq ela é a minha mãe!
Ela me dá cigarros e comida.
Mas eu comeco a ouvir akela voz, akela que me disse que eu devia entrar neste prédio.
E eskeço minha mãe com as compras e sigo atrás da tal voz.
As portas fecham na minha cara, mas eu não me dou por vencida!
Eu corro, giro, nesta casa meio maluca, cheia de corredores que dão sempre no mesmo lugar.
Issso são os meus raciocinios, minha psicóloga aparece dizendo.
FODA-SE! – eu berro no ouvido dela e ela some. Ela adora bancar o mestre dos magos.
Eu me canso. Começo a escorrer pelos cantos da casa.
Me sujo no pó. Apóio a cabeca no mofo.
Eu sei bem o q ela comentaria sobre isso, mas ela sumiu. Juro que não berro mais, mas ela não volta.
Essa mania que eu tenho de seguir a tal da voz ainda me fode feio.
A voz cria corpo.
Corpo enorme.
Corpo de homem, voando na janela da sala de jantar da casa.
Eu pulo, mas o corpo me escapa.
O corpo sai da janela, voa lá fora.
Eu sei que vou Ter que pular.
Eu sei que é um teste.
A vida vive me testando.
A vida ou essa voz.
Elas sempre se misturam.
E eu pulo.
E a voz me escapa.
A voz, a vida, eu sempre misturo.
Minha psicóloga não compareceu ao enterro.