Da minha parte, só gosto quando a faísca do olho do outro, um homem - se é que este bicho em extinção ainda existe - penetra na minha pupila, e o seu sorriso fisga a minha boca, então eu sou capaz de deixar suas mãos vagarem por meu corpo à procura de meus desejos. Quando encontra a química que acelera meu coração, então eu deixo entrar, assim a busca fica mais difícil, porque lá dentro existem os segredos e os obstáculos de séculos de existência, lá dentro daquele buraco quente existem células que guardam a minha memória energética desde a criação do universo.
O calor persiste à espera de um jato que acalme a angústia da descoberta do sentido da vida. Não sei o que seria da terra sem o mar para lavar a lama e salgar todos os males, o sol sem os pecados da escuridão. Em se tratando de amor gosto de fazê-lo sob as bençãos da lua cheia e da liberdade do vento. Neste reciclar de vidas, nasci na lua cheia, concebi e pari meus filhos na lua cheia. Quando morrer outra vez tenho a certeza de que ela estará lá, até que eu mesma possa virar uma estrela.
O sêmen que procuro é o resto de mar que a terra ainda
quer beber porque não conseguiu engolir todo no dia em que "fez-se
a luz!". Eu sou a terra cansada de ver a floresta queimada por nada!