DOS SÁBIOS E DOS SABIDOS
por José Roberto Torero
 
 
Tenho para mim que, tirando a grande maioria dos parvos, estultos, idiotas, simplórios, crassos, patetas, imbecis, tolos, ignorantes, palermas, insanos e fracos de entendimento que povoam a Terra, a pequena minoria restante divide-se em dois blocos: os sábios e os sabidos.

Os sábio são homens dotados de grande inteligência e rara percepção. Já os sabidos foram prendados pela natureza com os dons da esperteza e da malícia. Podendo-se escolher, não se deve ter dúvidas sobre a qual grupo pertencer: o dos sabidos é muito mais lucrativo.

É fácil comprovar a correção dessa afirmativa. Tomaremos como exemplo qualquer atividade humana, e, para não dizer que elejo um exemplo favorável à minha tese, escolhamos um lugar que por excelência é a morada dos sábios: a universidade.

Suponhamos que dois professores disputem a reitoria. Um é grande cientista ou reconhecido filósofo; o outro é famoso por promover jantares, dar vinhos importados de presente e convidar os colegas para passar o fim-de-semana em sua casa em Maresias. O primeiro lembra de todos os presidentes; o segundo não esquece um aniversário. O primeiro às vezes se esquece de dizer bom-dia; o segundo possui um extenso vocabulário para elogios.

Qual destes, caro leitor, tu achas que será o novo reitor? Até mesmo alguém com a inteligência de Edmundo saberia a resposta.

Essa supremacia dos sabidos sobre os sábio também pode ser vista em outras atividades. Vejamos alguns exemplos:

*o sábio escreve o livro, o sabido imprime e vende;

*o sábio cria um novo remédio, o sabido o põe em vidros e cobra por ele o preço de uma poção miraculosa.

*o sábio esmera-se por uma boa matéria, o sabido possui o jornal;

*o sábio medita sobre a Bíblia, o sabido torna-se pastor;

*o sábio elabora um programa político, o sabido elege-se deputado;

*o sábio teoriza revoluções, o sabido vende armas;

*o sábio fala em abrir as portas da percepção, o sabido é traficante de drogas.

Acho que, depois de tão eloquentes exemplos, posso cometer a ousadia de resumir minha idéia num único aforismo: os sábios têm o domínio da ciência; os sabidos, a ciência do domínio.

Por isso, meu amigo, não perca seu tempo estudando. Ao invés disso contrate um ou dois sábios para trabalharem para ti. Para eles bastam uma ou duas moedas no fim do mês, algum elogio e, de vez em quando, ver seu nome impresso nalguma publicação de mediana importância.

Esses sábios são fáceis de pagar. É comum ouvir alguns deles dizendo que, perto do reconhecimento público, da satisfação pessoal e do elogio de um renomado colega, o dinheiro é uma coisa de menor importância. Quanto aos sabidos, é mais difícil um deles falar uma coisa destas do que o Inocêncio de Oliveira devolver o dinheiro dos poços artesianos do Dnocs.

Enfim, leitor, o que te quero aconselhar, se ainda não entendeste, é que, ao invés de conheceres os segredos da matemática pura, deves aprender os labirintos da contabilidade. Ao invés de escrever um livro, abre uma papelaria.