Ele se defende:
- Mas eu te respeitava, ia fazer o quê?
- Pode ser, mas agora perdeu a vergonha, fica puxando esse assunto aí pra quê?
- Eu não tou falando disso por nada, não perdi a vergonha, só estou falando de uma coisa que nunca esqueci. Você era linda.
- E não sou mais.
- Melhor mudar de assunto.
- Não muda, não. Eu não me ofendo, sei que envelheci, você também. Mas sei mais do amor do que sabia naquela época, quando tinha um corpo bonito. Pelo menos isso. Ninguém tem culpa de envelhecer, a gente só tem culpa é de ser covarde, porque a covardia mantém a gente viva, é um remédio amargo, mas é um remédio, pra evitar de brigar à toa pelo que não dá pra se ter: um marido apaixonado, se dar bem com os vizinhos, ser lembrada pelos conhecidos, ouvir um "obrigado" de vez em quando. Se fosse brigar por tudo isto, tinha tido um ataque de nervos e caía dura no chão. Mas se você tivesse continuado comigo, se tivesse a gentileza de me dizer isso todo dia...
- Isso o quê?
- Como, isso o quê? Que eu era linda.
- Ah.
- Se você dissesse isso todo dia, eu ia me sentir melhor.
- Mas o que é isso? Uma proposta?
- E você acha que a esta altura da vida eu sou mulher de fazer proposta?
- Eu não acho nada, só fiz uma pergunta.
- E eu respondi. Agora depende de como é que você entendeu.
- Acho que você só está botando pra fora, tá desabafando. e eu não quero entender de outro jeito. Eu gosto da minha mulher. Ela tá meio confusa, eu também, mas preciso me agarrar nisso, nessa vontade de ficar com ela. Eu sei, eu sinto que não posso passar o resto da vida sem ter uma pessoa certa do meu lado, não agüento mais ficar rolando por aí. Eu tenho medo, eu tenho muito medo. Não quero nada, só quero ficar no meu canto.
- Então esquece dos meus seios, não fala mais nisso, esquece que um dia eu quis ser sua.
- Já esqueci.
Eles ficam em silêncio.
Ele diz:
- Eu vou embora.
E ela:
- Não, espera.
Ele explica:
- Mas eu tenho que...
Ela insiste:
- Não, olha aqui, não me deixa agora, por favor, olha, eu posso...
E ela abre a blusa e mostra os seios.
Ele fica pasmo: os seios dela ainda são lindos. Maiores, mais maduros, mas lindos. E ela está a um passo de chorar.
Ele desvia o olhar. E ela desaba, arrasada.
Ele fica ali, sem graça, até que resolve se levantar
e sair. Mas ela o puxa pela mão, e olha para ele, na expectativa.
Ele afaga a mão dela - e depois se solta e vai de vez.