Entrevista de canário é mais repetitiva do que de jogador de futebol ou deputado liberal. É puro relatório de seus produtos ou dos processos de produção. Os novos só sonham em ser um CD. 95% das entrevistas com músicos jovens têm o seguinte clichê: P . "quais são os planos da banda?" R . "vamos entrar no estúdio, mixar sei lá aonde, produzidos por não sei quem, ter um empreguinho precário numa "major", fazer uma "tour" de lançameno, etc". [Aliás, o mais recente sucesso local discute moralmente qual é o pai mais babaca, o improdutivo despachante contra o produtivo detetive. Puta que o pariu, daqui um pouco voltaremos a descobrir o mal do mundo nos judeus financistas improdutivos ou nos não-brancos preguiçosos...]
As matérias jornalísticas sobre artistas quase sempre são de divulgação e promoção de produtos, muitas vezes com participação nos lucros de shows ou festas para os meios de comunicação ou para seus funcionários. Só se fala em número de discos vendidos, de número de assistentes, se o show "funciona" ou de alguma excentricidade dos pretensos artistas. Tem até rádio local que diz: "poprock, aqui toca música de verdade". Hein?!?!?! É como achar que "indústria cultural" não é uma contradição em termos. Negócio é negócio ...
Tudo bem, não se trata de nenhuma descoberta.
No início do século a possibilidade da indústria cultural
matar a pretensão artística já tinha sido denunciada.
Nos bobos anos 80, nosso poetinha já dizia: "eles querem te fazer
de bobo, e eu também. Hein?!?!" O bareteamento da produção
de um disco levou à terceirização de riscos e ao barateamento
de custos para a "majors" descobrirem suas minas de ouro, caso típico
da tal acumulação capitalista para alguns "pós-moderna".
Nunca se gravou e tocou tanta merda feita no Brasil, para desespero da
pregação da tal cultura nacional-popular. Miles Davis não
nasce todo o dia. Na sua história do século XX, o E. Hobsbawm
descreve este fenômeno, que é mundial. Mas é foda cair
no mundo assim e nem dizer NÃO.