VITOR HUGO
por Marcos Breda
 
 
Era o primogênito do casal. A ultra-sonografia adiantara tratar-se de um menino. Vitor Hugo seria seu nome, em homenagem ao tio.

Rivaldo, o pai, estrebuchava de nervosismo na sala de espera da maternidade. Dezessete chicletes e incontáveis cigarros depois, entrou a enfermeira dizendo que ele podia subir ao primeiro andar. A placa "BERÇÁRIO" indicava estar no caminho certo. Rivaldo esforçou-se, em vão, tentando descobrir quem seria o SEU bebê, no meio daquele pequeno mar de pimpolhos através da vidraça.

"Qual é o nome dele?", perguntou a enfermeira.

"Vitor Hugo", respondeu, com desmesurado sorriso.

"Não consta nesta lista. Acho melhor o senhor tentar no segundo andar".

Rivaldo subiu, com incontido júbilo, a pequena escadaria. Uma placa indicando "CRIANÇAS COM PEQUENOS DEFEITOS" fez um calafrio percorrer sua espinha.
"Como se chama a criança?" perguntou a enfermeira.

"Vitor Hugo" disparou ele.

"Não, aqui não está. Acho melhor o senhor tentar o terceiro andar".

Com o coração aos saltos, galgou em segundos o pequeno lance de escadas. A placa "CRIANÇAS COM GRANDES DEFEITOS" fez o seu sangue gelar.
"Como é o nome do bebê?", perguntou o enfermeiro.

"Vitor Hugo" respondeu, quase gritando.

"Não está aqui, não. Acho melhor o senhor subir ao quarto andar".

Suando em bicas, Rivaldo subiu, hesitante, a escada. A placa "ABERRAÇÕES" deixou-o hirto de pavor.
"Como é o nome do…bebê?", perguntou a enfermeira?

"Vítor…Vítor Hugo", gemeu ele, a voz quase um uivo escorrendo garganta afora.

"Não consta aqui nenhum Vitor Hugo, mas acho que o senhor o encontrará no último andar".

Rivaldo subiu a última escadaria com passos lentos e pesados. No último degrau encontrou uma porta com um letreiro. Nele podia-se ler, em letras de neon:

"VITOR HUGO"
 
 

(pano misericordiosamente rápido)