Rivaldo, o pai, estrebuchava de nervosismo na sala de espera da maternidade. Dezessete chicletes e incontáveis cigarros depois, entrou a enfermeira dizendo que ele podia subir ao primeiro andar. A placa "BERÇÁRIO" indicava estar no caminho certo. Rivaldo esforçou-se, em vão, tentando descobrir quem seria o SEU bebê, no meio daquele pequeno mar de pimpolhos através da vidraça.
"Qual é o nome dele?", perguntou a enfermeira.Rivaldo subiu, com incontido júbilo, a pequena escadaria. Uma placa indicando "CRIANÇAS COM PEQUENOS DEFEITOS" fez um calafrio percorrer sua espinha."Vitor Hugo", respondeu, com desmesurado sorriso.
"Não consta nesta lista. Acho melhor o senhor tentar no segundo andar".
"Como se chama a criança?" perguntou a enfermeira.Com o coração aos saltos, galgou em segundos o pequeno lance de escadas. A placa "CRIANÇAS COM GRANDES DEFEITOS" fez o seu sangue gelar."Vitor Hugo" disparou ele.
"Não, aqui não está. Acho melhor o senhor tentar o terceiro andar".
"Como é o nome do bebê?", perguntou o enfermeiro.Suando em bicas, Rivaldo subiu, hesitante, a escada. A placa "ABERRAÇÕES" deixou-o hirto de pavor."Vitor Hugo" respondeu, quase gritando.
"Não está aqui, não. Acho melhor o senhor subir ao quarto andar".
"Como é o nome do…bebê?", perguntou a enfermeira?Rivaldo subiu a última escadaria com passos lentos e pesados. No último degrau encontrou uma porta com um letreiro. Nele podia-se ler, em letras de neon:"Vítor…Vítor Hugo", gemeu ele, a voz quase um uivo escorrendo garganta afora.
"Não consta aqui nenhum Vitor Hugo, mas acho que o senhor o encontrará no último andar".
"VITOR HUGO"
(pano misericordiosamente rápido)