A questão é que – perdoem-me aqueles que têm tanto conhecimento quanto grandes umbigos – tenho notado que Não está sendo mal-utilizado (sim, bêibes, tem hífen sempre que se usa o prefixo mal seguido de verbo), ou melhor, não-usado (sim, também tem hífen quando se usa a palavra não antes de qualquer verbo) como um veículo democrático e esfarelador de idéias as mais diversas. E a essa altura já devo ter conquistado um séquito de mal-simpatizantes. Mas, pensa bem: é uma masturbação intelectual essa de ficar se alfinetando por edições ad infinitum, sobre quem fez, quem entende mais, quem viu, quem pisou no tal do tomate, que a essa hora já deve ter se transformado em adubo. “Ah!”, alguns vão exclamar, “mas tu vê que adubo serve para estimular as sementes a crescer! É o alimento para que o vegetal cresça e frutifique forte e sadio!” Sim, bêibe. Não quero entrar em detalhes, porque na verdade sou especialista em generalidades. Jorge Furtado postula na edição 56 que “a idéia original era resgatar o Não como um baluarte da livre expressão, um desaguadouro natural para onde escorram textos e idéias impublicáveis em qualquer outro órgão (...). Só que tá virando uma espécie de revista literária (...)”. Concordo em parte, até porque tenho colaborado, timidamente, com contos para as publicações, seduzida por um convite do Jimi Joe e pela idéia em si. Também tenho a impressão que o pessoal escreve com quantidade excessiva de palavras, o que em Internet é cansativo. Eu não publicaria um romance via www porque jamais teria o mesmo sabor que lê-lo em papel. Sim, o papel tem sabor. E a “rede” idem! Mas são linguagens diferentes, e estamos diante de um ser ainda em fase de descoberta, tentativas. É necessário desenvolver uma comunicação diferenciada para Internet, coisa que ninguém ensina na Famecos, que eu saiba. Por outro ângulo (se possível em close), devem achar divertida a vitrine, os guris. Ficam lavando a roupa suja para o mundo todo, pensando talvez que o planeta inteirinho possa a vir se interessar por suas rusgas pessoais. Cinema é arte, e não briga de casais. Briga de casais dá filme, mas cansa quem não está inserido na turma. O “povinho” é uma panelinha fechadinha e cheinha de exibicionismos e comezinhos. Não, não faço cinema. Mas adoro cinema. Não só ver a obra lá na tela, vivinha da silva; aprecio igualmente o labor, a montagem, a nêura que é fazer superoito (com os amigos e o namorado muitas vezes, que quando o filme tá pronto já não o são mais). Acredito, no entanto, que exista uma infinidade de temas que estão sendo esquecidos ou ficando presos na agenda do gatekipping. Falta de espaço não é, pois estamos no cyber, ôuráite? (“Não tá satisfeita te rala”, vão me dizer. Claro, a trupe é coesa). Creio que se poderia tentar aprofundar e difundir idéias mais robustas, aproveitando este espaço para por exemplo escrever sobre artes plásticas, música, linguagem. “Ah, não, bem capaz.” Claro, quem é que tá interessado em falar sobre arte? Tema tão hermético que já vejo a boca torta de alguns. E digo: é hermético porque não existe um veículo DECENTE e democrático para conceder atenção – o que há são aquelas revistas pretensiosas com c, em papel couché e impressão quatro cores, lá do Eixo, vendidas a preço para almofadinha metido, e que divulgam textos tão distantes quanto vazios da realidade deste meio -, e porque há pouca gente disposta e competente e interessada em divagar, né? O Não poderia ser este veículo! Então, pergunto: há política, um tema até abordado por Carlos Gerbase na edição 56 (“O Encantamento Sublime”). Mas o Gerbase não vale, ou até é válido, mas não sozinho. Ele é suspeito, pô! Tá fazendo a campanha publicitária do PT! E quem é que faz o contraponto? Ah, pois é, tem que ser mais profundo... tem que conhecer, e conhecimento é o que não temos, porque estamos voltadinhos para o ventre, para o umbigo, para aquele truquezinho de câmera, para as mumunhas. Para o grande furo, ou melhor, o Grande Truque, a Grande Sacada. Tema, profundidade, interpretação - âââhe, cinema europeu? Blarrgh! Afinal, fomos – ou somos - em grande parte famequianos, né? Aquela usina de moda, de desfile de Egos e Sobrenomes. Intelectuais? Hummm... (pensando), ó: intelectual é quem investiga e pesquisa, cria idéia. O FH é, né? Bem ou mal, é. Porque escreveu um livro com idéias suas e do Mario Soares, quando este veio no Brasil ano passado, e que ninguém deu bola, porque os assuntos da moda eram mais fáceis e vendiam mais. Tem um conhecido aí que fez um filme (S-8), e que quando me mostrou o roteiro eu critiquei o final bobo, cheio de moral hipócrita. Daí ele disse (sic) “Ah, mas se eu pôr um final “cabeça” eu não ganho prêmio, pô, e ninguém vai patrocinar um filme que pouca gente vai ver e que o patrox vai achar que não vai dar ibope.” (sic) Lamentável! Será desse tipo de idéia que se nutre a gente do nosso cinema? Espero que me compreendam, ou ao menos, não cevem ódios, é apenas uma sugestão de pauta. Aliás, é bom acrescentar: não é nada pessoal, adoro o “povinho” da panela.
PS: Foi bastante eficiente, aliás, a crítica
do Furtado – bah, mais uma vez - não, não tenho caso com
ele -, porque é importante frisar que o português é
o nosso grande patrimônio, portanto, temos o dever de conhecê-lo,
principalmente quando somos escribas por profissão, cuidando dos
acentos, dos zês e do hífen.