GOSTEI, NÃO GOSTEI  (3)

anotações sobre filmes vistos por Nelson Nadotti

(nada de críticas, só duas ou três coisas de quem já foi acusado de sexista)

 

"O casamento de meu melhor amigo", de P. J. Hogan - Não chega a ser o que é "O casamento de Muriel", do mesmo diretor. Momentos brilhantes de Rupert Everett como o amigo gay de Julia Roberts. Ela não quer deixar seu antigo namorado (agora seu melhor amigo, mas não é o gay!) se casar, e arma plano para separar ele da noiva, e aí ela se arrepende, e o amigo gay reaparece para dançar com Julia, e evita o baixo astral. Isto é que é um filme que acaba antes de começar...!

"O casamento de Muriel", de P. J. Hogan - Envolvente comédia dramática sobre a gordinha Muriel (a ótima Toni Colette), que tem idéia fixa de se casar, apesar de todas as chances apontarem para a solidão. Começa como se fosse uma atualização do Patinho Feio, mas vai melhorando rapidamente. Este filme tem em comum com os também australianos "Vem dançar comigo" e "Priscilla, a rainha do deserto" a boa direção de arte, trilha musical fulminante e um entusiasmo do elenco que contagia as histórias sempre bem contadinhas. Neste aqui, os desdobramentos são interessantes, sem pieguismos, como poderia acontecer quando Muriel sai do interior e vai viver em Sidney, a capital, ao lado de sua amiga, que é fissurada em sexo mas acaba paralítica. Nada disso afunda em lamentações inúteis como acontece, geralmente, em filmes americanos sem criatividade.

"Como agarrar um marido", de Frank Oz - Habitual enterro de macaco em comédia para casais e famílias. Steve Martin faz o que pode. E Goldie Hawn está horrível.

"Como agarrar um milionário", de Jean Negulesco - Excelente comédia. Piadas maravilhosas, especialmente quando as três garotas se encontram com seus milionários no restaurante fino. Mas a melhor piada é a última, quando o falso mecânico que casou com a garota mais exigente revela que é milionário, numa solução visual de primeira, cinema como se fazia antigamente. Marilyn Monroe faz uma míope sensacional. E Lauren Bacall chega a fazer piada com ela mesma, dizendo que há muitas garotas com queda por homens mais velhos mas charmosos - e menciona Humphrey Bogart como exemplo!

"Jezebel", de William Wyler - Sensacional história da mulher orgulhosa que prefere perder o noivo do que deixar de usar um vestido vermelho. Bette Davis mata a pau. Henry Fonda maravilhoso. Roteiro perfeito. Tudo funciona.

"O perfume de Ivonne", de Patrice Leconte - Delicada e pouco usual história de amor, que só poderia dar num filme francês. O jovem Victor narra a história em flashback: no verão de 1958, ele saiu de Paris (à beira da guerra que se travaria na Argélia) e se hospedava numa pensão à beira do lago Genebra, quando conheceu Ivonne, uma jovem acompanhada de seu cão, no hall de um hotel chique. Da mesma forma casual como se encontram, Yvonne põe a perna encima da perna de Victor, discretamente, debaixo da mesa enquanto os dois almoçavam; e ele, a princípio surpreso pela iniciativa dela, acaricia também com discrição o joelho dela. Assim, Victor e Ivonne passam a se relacionar, num clima de encantamento e sensualidade crescentes, como se tivessem todo o tempo do mundo para curtir, sem compromisso com nada, até chegar a um melancólico final, que parece abrupto. O roteiro é adaptado de um romance, com uma estrutura literária, ao emendar cenas de tempos diferentes sem dar pistas a quem assiste ao filme pela primeira vez. Meio difícil - mas o impacto do romance dos protagonistas segura o interesse até o desfecho, da mesma forma como é intrigante as revelações sobre o caráter de Yvonne. Quando seria fácil concluir que ela era uma oportunista, o que parece é que o encanto da relação com Victor se quebrou para ela a partir do momento em que ele estabelece compromissos para Yvonne - uma viagem à América, para ela se lançar como atriz numa carreira internacional -, trazendo a realidade opressiva para dentro do que era, até ali, uma atmosfera de sonho, um paraíso do amor. Foi Yvonne quem tomou a iniciativa da relação, no início do filme, e é ela quem encerra tudo. Não se esclarece se ela agiu de maneira pragmática ou sofrida, mas um francês diria que "une femme c'est une femme".

"A história de Qiu Ju", de Zhang Yimou - Chato pacas. Qiu Ju (Gong Li, muito mal aproveitada) passa o tempo todo insistindo que deseja apenas que o chefe do povoado se retrate pela agressão a seu marido. Tanto insiste que o chefe do povoado vai preso, justamente depois que ele ajuda Qiu Ju a ter seu bebê que corria perigo de vida. Aí Qiu Ju entra em parafuso: não queria que o chefe do povoado fosse preso, só queria uma retratação. E o filme acaba. Sinto muito, mas faltou a cena obrigatória, ou seja, quem assiste ao filme quer ver o chefe se retratando. Como se chega a este ponto é problema do roteirista. E olhe que este é o diretor do estupendo "Amor e sedução"... Sabe quando vejo outro filme dele? Nunquinhas.