ACONTECEU  DE  VERDADE

 

Pataco

A solidão faz a gente adquirir alguns hábitos. E eu voltei a fumar, depois de muitos anos. Desde o primeiro fora de uma intenção-de-namorada e de mais ou menos uma década desde o meu último tapa. Não sei se são os efeitos que podemos fazer com a fumaça ou se é o apoio da tampinha de metal do zippo. Só sei que tem ajudado a passar os dias, digo, as loooooongas noites de Brasília. 

Ah, já ia me esquecendo. . . O outro hábito, resgatado da juventude, é o de sair  todas as noites e dar uma volta por alguns bares. E na 210-Norte tem um muito bom, com música-ao-vivo e mesas ao ar-livre. Da grafia do nome, eu não tenho culpa; é Butikin (é assim que está escrito na plaqueta). E naquela sexta estava lotado, com todas as mesas ocupadas. Só tinha uma com duas amigas conversando e a única cadeira disponível do bar. Nem tive tempo de raciocinar e já estava pedindo fogo para acender um cigarro (pois é, algumas pessoas têm infecções, eu, tenho vícios oportunistas). 

A de cabelo curto escuta o meu sotaque e pergunta: Você é do Paraná? E eu: Não, queridas, sou do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Uhh. . . E a outra, com um meio-sorriso, disse: Pois eu sou ludovicense. Eu aproveitei e respondi com a outra metade do sorriso: Eu sei, vocês são de São Luís do Maranhão, né? Não, a Cida é de Fortuna. Eu é que sou de São Luís. 

Depois eu sentei, pedi uma cerveja, conversamos, rimos das diferenças de linguagens. E eu sempre insistindo nas qualidades da diversidade e, eventualmente, tocava na perna e nas mãos da Rita. Mas papo vai, papo vem e elas decidem que já é tarde e que têm de ir embora. Eu digo: Se vocês moram no Plano, eu dou uma carona. Elas dizem que é pertinho, que não precisa. Mas eu sou um  cavalheiro e insisto. Elas aceitam, entram no carro. E tudo bem. Muitas besteiras, muitas risadas e chegamos no bloco delas. São vizinhas. 

A Cida diz que tem que subir, que está precisando ir ao banheiro, Beijinho, beijinho, tchau, tchau. E a Rita fica mais um pouco. Depois, uma piada, ela toca no meu rosto, mas tá na hora de subir. Então, despedida, abraço e. . . ficamos abraçados. O cigarro atrapalha. Mas é bom. Quer subir?. . . Ãhã. . . Eu faço um café. Subimos de mãos dadas e quando ela acende a luz da cozinha eu busco um outro abraço. . . e um beijo. . . E tudo flui. Que maravilha. Se ela soubesse como eu me derreto por uns cabelos cheirosos. 

Mais tarde, ela pede prá mim apagar a luz. Eu levanto e vejo ela tirar o sutiã por baixo da blusa e se espichar no sofá. A penumbra criou aquele clima e os amassos, beijos e lambidas nos seios nos deixam em ponto de bala. Aí, ela me puxa pela mão e vamos pro quarto. Mas quanto mais roupa a gente tirava, mais ela gemia e tremia, então eu perguntei: O que foi? Ela baixou os olhos e disse: Eu sou bolípada. E eu, sem tirar as mãos daquela bundinha gostosa, disse: Não tem problema, eu sou que nem o ornitorrinco. Tenho um pênis de duas cabeças. E começamos a rir da cara de vocês. Uma risada  única e forte, que quando parecia que ia terminar, começou a crescer de novo e virou uma gargalhada enorme, convulsiva e interminável. 

Com carinho, 

PATACO – Brasília – 22/10/1998.