Então veio o Dorival. Rapaz discreto e bonito, com jeito de intelectual, que sempre aparecia no bar às terças-feiras, dia de pouco movimento. Dorival ficava fumando num canto e bebendo refrigerante. Parecia esperar alguém, mas esse alguém nunca chegava. Uma noite, para surpresa geral, pediu um uísque. Seguiram-se vários outros. Ficou completamente bêbado. Às três da manhã, quando decidi encerrar o expediente, pediu para ficar mais um pouco. Eu deixei e comecei a beber bastante. Dispensei os garçons e os seguranças. Ele começou a chorar, discretamente. Ficamos sozinhos. Eu sentei na frente dele, já bêbada e mal- intencionada. Pensei que ele me contaria um grande segredo: estava apaixonado por mim. Mas o segredo era outro. Estava loucamente apaixonado por um dos seguranças, o Adão, que eu acabara de mandar embora.