Há dois anos, Oliviero Toscani lançou um livro criticando a linha hegemônica da publicidade comercial em todo o mundo. O fotógrafo italiano acusa os publicitários de diversos crimes, entre os quais o "crime de adoração às bobagens". Longe de mim estar de acordo com o publicitário mor da Benetton. Entretanto, em vista dos quatro anos que acabamos de viver no Rio Grande do Sul, vale a pena uma longa citação sobre o assunto:
"Durante a década de 1980, década do culto ao sucesso pessoal a qualquer preço, da grana e da ‘aparência’, década dos ‘vitoriosos’ apresentados em quadros inteiros na televisão, a publicidade, sempre a reboque, sempre caricatural, enchia os jornais e os clipes de cenas e slogans ‘vencedores’. Veja como hoje parecem ridículos e mentirosos... BNP é vencer, junte-se aos que vencem (Computer Center), A marca dos vencedores (Goodyear), A moda pertence aos vencedores (Hom), A técnica que vence (Michelin), Nascido para vencer (NCR Informática), A força de vencer (Sanyo), As máquinas de vencer (Sharp), O seu dinheiro me interessa etc, etc. ‘Nascido para vencer’! Dez anos mais tarde, todo esse frenesi pela vitória, pelo dinheiro farto, pelo sucesso folheado a ouro, esses comerciais cheios de yuppies e de garotões, tudo isso, em vista da situação atual, soa extremamente falso e grotesco....." (*).
Quem viu o anúncio da atividade de distribuição dos prêmios "Líderes e vencedores" da Federasul (?) não precisa nem ler o Toscani. O grotesco folheado a ouro está ali. Por sorte, os gaúchos afirmaram sua identidade frente ao culto da grana e da aparência vitoriosa dos yuppies globalitários da chapa oficial mal passados quatro anos. Com oito, Britto e os buzzatto boys poderiam tornar os gaúchos adoradores definitivos de bobagens.
(*) In: Toscani, Oliviero. A publicidade é um cadáver que nos sorri. Ediouro, 1996.
Paulo Cezar da Rosa