- Mas, o Rita, sabe de alguma festinha hoje?
- Tu não tava com dor de cabeça?
- Passou.
- Parece que tem uma na casa do Vicente.
- Tá doida. Lá sempre tem que levar bebida. Prefiro ficar bebendo em casa porque neste tipo de festa, tu leva um vinho bom, mas tem que repartir com mais dez e acaba tomando um bem vagabundo que o carinha comprou no armazém da esquina.
- Tá exigente, hein...
- E tem mais, se tu dá a festa, tem que bancar. O Vicente é um encolhido. Detesto miserável. O cara fica esperando as pessoas ligarem para ele para não gastar na ligação. Isto que o dele nem é celular.
- Vamos no Bar do Beto, então.
- Ah, não. Papo intelectual. Prefiro ler um livro em casa.
- Então no Elo. Se tu tá a fim de encontrar o Ricardo, esta é sua chance. Pensa que eu não saquei, semana passada?
- Que Ricardo nada, já desapaixonei. De deprimida já chega eu. Minhas paixões andam durando um dia. O mercado anda muito inflacionado agora com o verão.
- Eu não vejo esta fartura toda. Em todo lugar só tem gay...
- Tu que tá exigente. Hoje mesmo vi um corpídio, cercado de carnes por todo o lado, correndo na Redenção e o calção dele tava meio caído na frente e dava para ver o começo daquelas entradinhas que vão para a virilha, que só os homens têm. Quase desmaiei. Quando ele passou de walk-man, pensei: vou olhar qual a altura do calção atrás, mas não tive coragem de me virar, coisa que qualquer homem faria.
- Mas ele ti deu bola?
- Pra alguém dar bola para alguém às 8 e meia da manhã, só se o encontro foi marcado na véspera. E ainda tem que ser às escondidas. Já ouviu falar em "O Amor às 8 da manhã"? Pra mim não existe.
- Déti, eu já namorei um cara que, depois que eu dei a chave do ap pra ele, ele chegava bem cedinho em silêncio, fazia torradas, laranjada, me acordava, me comia, me alimentava e deixava eu fumar um cigarro dentro do próprio quarto.
- Com um desses eu casava.
- Eu casei. Mas depois de um tempo eu tinha que acordar o carinha à força pra não perder o horário do trabalho. Ele reclamava que nunca tinha café na casa e detestava meu cheiro de cigarro.
- Mas, Rita, semana passada eu nem queria pensar em homem. Tive a maior TPM da minha vida. Durou uma semana. Acho que é porque eu tô chegando nos 30. Tô ficando velha...
- Que velha, tu pode dizer que tu tem 25. Tu já pensou em um dia ter filhos?
- Qual seria o pai? Tô perdidamente apaixonada por 4 ao mesmo tempo.
- Esta estória de várias paixões ao mesmo tempo é muito infantil.
- Ah, é? Quem disse? Pode ser infantil aos 18, mas aos 30 acho que é bem normal. Ou talvez seja mesmo vontade de ter filhos. Acho que esta é a causa de se ter vontade de ficar amamentando por aí ou ficar tomando mamadeira.
- Qual destas tuas paixões tu escolheria para ser o pai da criança?
- Qualquer um deles. Inteligência todos têm. Sensualidade e bom-humor, idem. Depois, um é criativo, o outro determinado, um é sonhador e o outro angelical. Uma mistura deles seria o pai ideal. Pena que ainda não transei com nenhum deles.
- Então vamos sair pra tentar achar o pai perfeito pra tua criança porque eu não quero ter filhos.
- Se a gente não encontrar, pelo menos se toma um capuccino.
Lulit