EUTANÁSIA

por Clarah Averbuck

Quem te deu permissão para me consertar? Eu, não. Quem disse que tu podias me amar, assim? Certamente, não eu. Eu não fui atrás de ti, tu me achastes. You framed me, David, e agora queres me controlar. Queres me mudar, me moldar. Me prendestes nesse castelo, sozinha, e queres me fazer outra. Claro, tu me amas e queres tudo bem. Tentas ser criativo, isso é uma gracinha, mas, David, tu não consegues. Não funciona. Não preciso mais de ti, querido, me deixa ir. Cansei. Pára de tentar me dominar. Tu dizes que entendes, mas não entendes. Tu nunca vais ver as coisas que eu vejo. Tu não vês através de nada. Tu nunca vais sequer encostar nas coisas que eu abraço. Tu me castras, me roubas as palavras e as tritura, tu não vês nada além da carne e do mundo. Me enlouquece a tua falta de tato. Tu me matas aos poucos, definhando, sozinha. Tu me fazes sentir vergonha do que costumava me orgulhar. Tu não ouves a minha alma gritando. Tu me matas de sede de mim mesma, David. Tu sugas a minha essência, secas a minha inspiração. Tu não queres que me vejam, não queres que eu tenha dons. Jamais vais me deixar sair. Tu me queres presa. Tu me queres amarrada. Tu me queres morta, e assim será.

Não mais sua,

Beatriz