KUBRICK

por Pataco

É claro, que eu sempre gostei de ciências e de ficção-científica.

Sim, quando eu era criança e me perguntavam o que eu gostaria de ser quando crescesse, eu sempre respondia que queria ser astronauta. E mais alto que o meu pai, lógico.Mas eu não imaginava que a minha cabeça, que sonhava com a cadelinha Laika, o Sputnik e o projeto Apolo ficasse tão emocionada com o monolito, o primeiro primata a usar um fêmur como ferramenta, o computador HAL e a estação espacial girando ao som do Danúbio Azul. É, realmente o "2001, Uma Odisséia no Espaço" marcou toda uma geração, mas eu me sentia um pouco mais marcado. E fui ler o original do Arthur Clarke, que tinha detalhes de exobiologia, astronomia, etc. Também me lembro que na época, as pessoas inconscientemente faziam uma saudável competição de quantas vezes já tinham visto o filme. E ficávamos discutindo o significado do monolito noite adentro.

Falando em 2001, alguém viu a conjunção de Vênus e Saturno no dia 23 de fevereiro, logo após o pôr do sol? Foi D+. Só não esqueçam que temos um equinócio no dia 20 de março. Começa uma nova estação e em qualquer lugar do mundo os dias e as noites têm a mesma duração.

Não só é diferente, como tudo pode ser diferente.

Mas eu também sempre gostei de cinema e de música.E pergunto para vocês:Quem não ficou com o coração na mão, embalado pela gaita escocesa de "Barry Lyndon"? E a "Lolita", do Nabokov? Alguma filmagem ou alguma ninfeta foi melhor que a do Kubrick? E quem não teve pesadelos com a menininha perguntando: Quer brincar comigo?, de "O Iluminado"? Da, moi drug! Quem não viu a "Laranja Mecânica" e tentou aprender a linguagem "nadzat" do Anthony Burgess, ficou matutando sobre a violência e o controle na sociedade ou, melhor, ficou rindo daquela ridícula bolinha da Censura?

Mas eu também sempre tive uma grande paixão pela História.

Também, com o nome de Espartaco, não é de estranhar!

Por acaso, alguém se lembra de Porto Alegre lá por 1962/63? E do Cine Rex, que ficava do lado do prédio da Última Hora? Algum jornalista ou antropólogo para me salvar? Pois é, não que eu seja o mais "experiente" da turma, mas eu lembro.

E não é para menos!

Eu tinha seis/sete anos de idade e acho que só tinha assistido filmes infantis, do tipo Branca de Neve, Cinderela, O Menino Mágico, etc. Foi justamente nesta época que o filme "Spartacus" passou pela primeira vez em Porto Alegre. E o meu pai, que eu adorava, resolveu ir ao Juizado de Menores e pedir autorização para que eu pudesse assistir o filme.

E não é que ele conseguiu?!

Então, no outro dia, pegamos um bonde até o centro e fomos nós dois, de mãos dadas, para a bilheteria do Cine Rex. Eu assisti o filme maravilhado; extasiado pela história, pelo romance, pela amizade entre os gladiadores, pela morte nas arenas e pela luta contra a escravidão.

Realmente eu fiquei impressionado, para toda a minha vida.

E queria prestar esta homenagem pessoal a este cineasta genial.

Mas tem uma coisa que eu não perdôo no Kubrick, é ter me perturbado ainda criança, a ponto de eu olhar aquela preparação toda para a batalha decisiva, desproporcional e tensa, entre romanos e escravos, e perguntar baixinho para o meu pai:

"Paiê, o que é que eles vão fazer comigo, agora?"

Risos, zoom out e THE END

ESPARTACO / Pataco - Brasília, 08/03/99.