LULA E O TITANIC
Por Tatiana Mora Kuplich
Depois de quase quatro anos na Inglaterra dá pra dizer que é um verdadeiro deleite participar de um debate em português e ver caras conhecidas falando do Patropi. Pois a nata do PT veio a Oxford e depois passou por Londres, pra encantar os brasileiros que aqui vivem, ainda meio perdidos com a quase venda do Brasil. A University London Union sediou o evento, organizado pela filial petista na Inglaterra na fria tarde do sábado 6 de fevereiro. "Crisis or Clash: What is happening in Brazil?" reuniu mais ou menos 400 pessoas. Marco Aurélio Garcia começou o papo, falando didaticamente da situação atual, dando números e a real do rombo. Tarso Genro falou depois, reiterando a mediocridade da opção FHC ou do presente "estável" e do quanto a respeitabilidade de um governo pôde vir através de moeda. Mostrou um pouco das propostas petistas pra enfrentar a crise, aquelas que muitos dizem nao existir. Boicotes, so pra variar. Eduardo Suplicy falou cheio de emoção, até dos 0.4% que separaram sua Marta do governo de São Paulo. E então veio o Luis Inácio, meio grisalho, terno e gravata, mas Lula da Silva, pra nossa sorte. Começou com os 600 anos que separam a educação no Brasil da educação em Oxford, no primeiro custo no segundo investimento "mas já foi melhor no Brasil, muitos grandes vieram de escolas públicas, mas agora se privatiza, se corta, se fala então sempre das mesmas coisas, pô, queria eu falar de fibras óticas, química fina, mas os problemas são sempre os mesmos, ainda nem reforma agrária tivemos. A doutrina do Neo-Liberalismo vendida 24 horas por dia, diminuir papel do Estado e abrir importações, ser moderno. As soluções oferecidas nao podem ser as mesmas que para a Gra-Bretanha, Estados Unidos, França, pois não somos nem parecidos com eles, nao temos nem produtividade pra tanto e grande parte de nossas cidades ainda nao tem saneamento básico quando em agosto de 1998 falamos sobre a importância de uma desvalorização gradual do real fomos chamados de vendedores do Apocalipse, Neo-bobos e hoje somos comos orfãos pois imaginávamos até que fôssemos Primeiro Mundo. FHC é como o Capitão Smith e o Brasil é o Titanic. Estamos, claro, na segunda e terceira classes, gritando, olha o iceberg, olha o iceberg, mas o Capitão só se preocupa com a elite, com as festas e jantares, e o iceberg nos esperando ali, logo adiante "
Escrevo de Southampton, Inglaterra, cidade com dezenas de memoriais pro Titanic e seus passageiros pois foi de onde eles partiram em abril de 1912 na famosa e trágica "maiden voyage". Moro na rua Winn, onde coincidentemente o Capitão Smith morava. Espero que os destroços do nosso Titanic ainda sejam recuperáveis em 2002, Lula. Com certeza o Capitão Cardoso perdeu sua honra há muito tempo e nem pensa em afundar com seu navio, mas quem sabe ele e a tripulação da casa de controle e alguns passageiros influentes não deixam o caminho livre pros botes salva-vidas?