Falus Portatilis
por Simone Dias Marques
 
 
Seria fácil: só desatarraxar e guardar. Poderíamos inclusive levá-lo na bolsa, afinal, nunca se sabe. Falo do pingulim. O pingulim que os homens têm. É, e seria assim, então: atarraxável.

Quando arranjassem uma namorada, os homens teriam de deixar o pingulim com a garota. Obrigatoriamente. Coisa de cultura, tradição, e a tradição seria esta. Pois bem, a moça desatarraxaria o pingulim do menino quando ele fosse embora para a casa. Quando se vissem, e isso seria então infinitamente mais freqüente, os homens devotariam muito mais atenção às mulheres, etc., mas quando se vissem, a garota ia lá, na gaveta, e tiraria o pingulim. Atarraxaria e daí, ao uso.

O pingulim desatarraxável teria muitas vantagens. A primeira, é óbvia: todo o poder da relação na mão da mulher, literalmente. Depois, a fidelidade seria algo mais concreto que mera jura pela mãe morta. Virilmente, seriam fiéis. Quanto a outros membros não-atarraxáveis como a língua, mãos, dedos, dedão do pé, poderiam fazer o que quisessem. Claro, todos sabem que as mulheres não são fáceis, e elas por certo fariam chantagens as mais absurdas. Mas, primeiro, as vantagens.

Poder, fidelidade e ereção certa. Clap clap clap, ótimo: a mulherada não veria nunca mais a coisinha chocha. Pingulim atarraxável seria qualidade de vida, sempre vivo, reto, potente. Nada de problemas de ordem sangüínea fraca, doenças sexualmente transmissíveis, próstata bichada: o pingulim atarraxável seria um membro honorário do prazer e da beleza.

Ah, sim: o funcionamento da coisa. Junto à base, o encaixe: de acordo com o portador, seria inserido em uma fenda circular, lá embaixo, perto da zona quente. O membro seria confeccionado com recursos do governo federal, via Ministério da Saúde. Claro, haveria versões de pingulins mais sofisticados, importados, naturalmente. Os da Grécia seriam inspirados na mitologia, Adonis, Zeus, etc. Por aqui, teríamos modelos pitorescos, como o estilo Ronaldinho e outros sob a inspiração cultural do momento.

Não podemos esquecer que o pingulim atarraxável estaria sub judice da mulher. Ela teria responsabilidade de o guardar, mantê-lo limpo, envernizado, mantido em temperatura em torno dos 30º. Para o transporte, uma bolsinha discreta em modelo necessaire, facilmente tolerante às bolsas femininas.

Um homem poderia possuir quantos pingulins quisesse. Haveria aqueles exibicionistas que teriam coleções. Porém,  em toda e qualquer hipótese, sempre uma mulher guardaria as preciosidades. No caso dos solteiros, a própria mãe o faria. Vai sair, Fulano? Sim, por favor, me alcance aquele pingulim magenta, que hoje vou a uma festa glitter. Ou então, com a namorada: Ah, não, põe o pingulim do Inter! Eu gosto tanto de ver você com ele... E a imaginação fica sem limites.

A indústria faria a maior farra, bem como os designers: parafernálias de produtos para embelezar e tratar o seu pingulim, aplicativos da mais alta tecnologia para promover prazer, alarmes de segurança (pingulins seriam alvo de roubo, veja só!). O homem sai do bar e de repente, pergunta à garota que está com ele: viu meu pingulim? Acho que deixei sobre a mesa, quando te beijei. Bem-feito, deveria ter me entregue em mãos. E agora? O Ministério da Saúde, como sempre contraditório, advertiria nas embalagens: Atenção: o uso prolongado do pingulim pode causar dependência física e psicológica. Tráfico de pingulins falsos e viciantes teriam a polícia federal no encalço. A imprensa teria pautas orgásticas. A ARI premiaria todo ano a melhor reportagem sobre pingulins: Troféu Pingulim do Ano, veículo rádio: O seqüestro do pingulim canhoto.

A paz seria instaurada, todos teriam o que tanto provoca desavenças, guerras, CPIs, impeachments, suicídio e frustração. Os problemas estariam quase todos resolvidos, e só restaria dar um jeito na mulher. Que ainda dorme no berço da cultura que lhe ensinou ser oblíqua e confusa e frágil, para ela acabar achando que o mundo se resume num pingulim só.
 
 
Simone Dias Marques
simonemarques@al.rs.gov.br
 


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